Países ensaiam reabertura do comércio
Apesar das restrições das autoridades sanitárias e das críticas, as autoridades da Europa começam a, cautelosamente, ensaiar uma volta à normalidade e religar suas economias. Nesta quarta-feira (15), o governo da Dinamarca autorizou a reabertura das escolas, que estavam fechadas desde o dia 12 de março. Será uma reabertura parcial: apenas metade das cidades dinamarquesas e 35 por cento das escolas da capital, Copenhague, voltarão às atividades. O mesmo ocorre na Áustria, que permitiu a reabertura de lojas de serviços não-essenciais, como artigos para jardinagem e para tarefas domésticas. Outros países como a República Tcheca e a Polônia adotaram medidas semelhantes.
Mesmo a Itália, onde até agora são 162,5 mil casos e 21,07 mil mortes, começou a autorizar o funcionamento de algumas lojas nas regiões menos afetadas. Na Lombardia, porém, onde a pandemia foi mais crítica, o fechamento continua. Na Espanha, onde houve 177,6 mil casos e 18,6 mil mortes, parte do comércio não-essencial voltou a abrir, com exceção de bares, locais públicos e algumas lojas.
E, nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump disse, em uma entrevista coletiva na noite da terça-feira (14), que 29 dos 50 Estados americanos estão “em excelentes condições” (“in very good shape”) e podem começar a levantar as medidas de isolamento social adotadas para conter a epidemia do coronavírus. Trump não disse de quais Estados estava falando.
O momento de “religação” das economias é o mais temido pelas autoridades sanitárias. No entanto, depois de várias semanas em inatividade forçada, as principais economias mundiais estão dando sinais de falência múltipla. Na terça-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou o Panorama Econômico Mundial (World Economic Outlook), seu relatório trimestral sobre a saúde da economia global.
O cenário descrito pelo Fundo foi muito ruim. Na média, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deverá apresentar um retrocesso de 3 por cento neste ano. A perda acumulada para o PIB global entre 2020 e 2021 pode chegar a 9 trilhões de dólares. No relatório anterior, divulgado em janeiro deste ano, o Fundo ainda esperava um crescimento de 3,3 por cento na economia global.
A causa é a epidemia, com um impacto tanto na oferta quanto na demanda. As contaminações pelo vírus reduzem a oferta de mão-de-obra. Medidas de isolamento social, bloqueios e quarentenas reduzem a mobilidade, interrompem as cadeias de suprimentos e diminuem a produtividade global, prejudicando a demanda. Além disso, o medo de demissão e do contágio não só mantêm as pessoas em casa, como também as levam a reduzir o consumo. Segundo o Fundo, será a primeira vez desde a Grande Depressão dos anos 1930 que haverá retrações sincronizadas nos países ricos, nos emergentes e nos em desenvolvimento.
No entanto, mesmo com um cenário tão negativo, o FMI conseguiu ver pontos positivos. O cenário-base (ou seja, o considerado mais provável pelo Fundo) é que a pandemia desapareça no segundo semestre deste ano, permitindo um relaxamento das medidas. Se isso se confirmar, o Fundo estima que o crescimento médio em 2021 será de +5,8 por cento.
A reabertura gradual de parte do comércio na Europa e as declarações de Donald Trump indicam uma previsibilidade maior para a economia, o que é muito bom. No entanto, o mercado pode apresentar uma realização de lucros de curto prazo, em um cenário que permanece volátil. Mas no médio e longo prazo, a visão é positiva.
INDICADORES – A inflação medida pelo Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) subiu 1,13 por cento em abril, ante os 0,64 por cento registrados em março, informou, na manhã desta quarta-feira (15) a Fundação Getulio Vargas (FGV). Até abril, índice acumula alta de 2,88 por cento no ano e de 6,73 por cento em 12 meses. Em abril de 2019, o índice havia registrado elevação de 1,00 por cento no mês e alta de 8,46 por cento em 12 meses. O IGP-10 inclui preços coletados entre 11 de março e 10 de abril.
O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que representa 60 por cento do IGP, subiu 1,52 por cento em abril. No mês anterior, o índice havia subido 0,92 por cento. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,33 por cento em abril. Em março, o índice havia registrado uma deflação de 0,03 por cento. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 0,29 por cento em abril, ante 0,26 por cento em março.
MERCADOS – A quarta-feira começa com um movimento de leve realização de lucros nos mercados globais. Na Ásia, o índice da Bolsa de Xangai fechou em queda de 0,57 por cento, e em Tóquio o Nikkei recua 0,45 por cento. Na Europa, o alemão Dax e o britânico FTSE recuam mais de 2 por cento. O mercado de petróleo também permanece em baixa. O petróleo do tipo WTI também cai mais de por cento, caindo abaixo do “nível psicológico” de 20 dólares. O petróleo do tipo Brent recua quase 4 por cento cotado na casa dos 28 dólares por barril. Os contratos futuros de S&P 500 e os contratos futuros de Ibovespa também recuam na abertura dos negócios.
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