A decisão do Banco Central (BC) de elevar a taxa referencial Selic para 2,75 por cento ano, anunciada na semana passada, não deve ser nem a última nem a única. Ao longo dos últimos dias, banqueiros centrais de diversos países emergentes elevaram ou anunciaram a intenção de elevar seus juros. A justificativa é a mesma: conter elevações dos preços. A alta das commodities vem pressionando a inflação ao redor do mundo, com mais impacto nas economias emergentes. Apesar de os efeitos das medidas de restrição ainda serem sentidos, as autoridades monetárias vêm elevando as taxas para conter a alta de preços.
O caso mais dramático está ocorrendo na Turquia. No sábado (20), o presidente Recep Tayyip Erdogan demitiu Naci Agbal, o presidente do banco central turco, pois ele havia elevado as taxas de juros mais do que o esperado. Na quinta-feira (18), os juros referenciais na Turquia haviam subido para 19 por cento ao ano, em uma tentativa de conter a inflação, que chegou a 15,61 por cento em 12 meses. No entanto, a alta custou o cargo do presidente do banco central.
A intervenção de Erdogan reacendeu os temores de um retorno à política econômica anterior, que tolerava uma forte desvalorização da moeda e uma inflação crescente. Erdogan indicou Agbal no ano passado, no que parecia um retorno a políticas econômicas mais ortodoxas. Com isso, a lira turca perdeu 10 por cento de seu valor em relação ao dólar
A Turquia não foi o único caso. O banco central da Rússia elevou inesperadamente as taxas de juros na sexta-feira pela primeira vez em mais de dois anos, citando os riscos do aumento da inflação e ameaças geopolíticas. O movimento fez as taxas referenciais subirem para 4,5 por cento ao ano, após terem permanecido em 4,25 por cento durante muito tempo.
A decisão aumentou as expectativas de novas elevações nos próximos meses. Elvira Nabiullina, governadora do banco central russo, disse que a Rússia estava voltando a uma taxa “neutra” de 5 por cento a 6 por cento ao ano, mas advertiu que “incertezas” podem impedir que ela alcance essa meta até o fim do ano.
A recuperação econômica relativamente rápida da Rússia, depois de se recusar a seguir muitos outros países na imposição de um segundo bloqueio contra o coronavírus no outono passado, significou que a inflação estava subindo mais do que o esperado. A Rússia estabeleceu limites de reajustes para vários alimentos importantes no final do ano passado, depois que os preços dispararam, agravando uma longa queda nos padrões de vida que a pandemia exacerbou. Agora, o banco central espera que o Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia cresça entre 3 e 4 por cento este ano, após cair 3,1 por cento em 2020.
Relatório Focus
O relatório Focus publicado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (22) mostra uma deterioração das expectativas. A projeção da inflação medida pelo IPCA subiu para 4,71 por cento, ante 4,60 por cento na semana passada e 3,82 por cento há quatro semanas. A taxa referencial Selic prevista para dezembro subiu para 5,00 por cento ao ano ante os 4,50 previstos na semana passada. O dólar previsto para dezembro permaneceu inalterado em 5,30 reais e a estimativa de crescimento da economia está em 3,22 por cento, praticamente estável ante os 3,23 por cento da semana anterior.
Indicadores
A expectativa mediana de inflação dos consumidores brasileiros para os próximos 12 meses subiu 0,2 ponto percentual no mês de março para 5,5 por cento, sendo esse o maior valor desde novembro de 2018 diante de sete períodos consecutivos de alta. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a mediana subiu 0,7 ponto, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV).
E Eu Com Isso?
Diversos países emergentes têm elevado os juros em uma tentativa de conter a alta de preços e a desvalorização das moedas em relação ao dólar, devido tanto à alta dos preços das commodities quanto aos sinais de melhoria da economia americana. Esses movimentos sugerem o início de um processo de reacomodação das economias emergentes a um cenário de redução da liquidez global. No Brasil, a divulgação da Ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a terça-feira (23) deverá alinhar as expectativas com relação aos juros no País. Nesta manhã, apesar da alta dos contratos futuros do índice americano S&P 500, os contratos futuros do Ibovespa estão começando o dia em queda.
O mercado também está na expectativa dos pronunciamentos do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano. Powell deve falar nesta segunda-feira em um evento do Bank for International Settlements (BIS), o banco central dos bancos centrais, e vai testemunhar diante do Congresso na terça e na quarta-feiras.