Apenas dois dias após as manifestações de 7 de setembro, que marcaram o aprofundamento da crise político-institucional entre o Supremo Tribunal Federal e o Executivo, Bolsonaro recuou dos seus ataques ao Judiciário e divulgou nota sugerindo o apaziguamento entre Poderes.
Intitulado de “Declaração à Nação”, o documento afirma que o Presidente da República nunca teve a intenção de agredir quaisquer dos Poderes, que as pessoas que exercem o poder não têm o direito de “esticar a corda” e que suas palavras recentes foram proferidas no calor do momento.
Ainda, Bolsonaro reitera o respeito pelas instituições da República e diz estar disposto a manter diálogo permanente com elas “pela manutenção da harmonia e independência entre os Poderes”.
A carta veio a público após almoço do presidente com o ex-presidente Michel Temer e horas de conversas com ministros palacianos.
Bolsonaro enviou um avião para São Paulo com o intuito de buscar o ex-presidente para a conversa – e foi Temer quem redigiu um rascunho e sugeriu a publicação da carta.
Nesse contexto, o movimento de pacificação ocorreu após apelos dos principais articuladores políticos do Planalto – que entendiam a escalada da crise como um enorme passo para a paralisação política no Congresso – e avisos de líderes partidários de que, dada a conjuntura, ficaria mais difícil conter a pressão pelo avanço de pedidos de impeachment do presidente.
O recuo de Bolsonaro repercutiu positivamente no ministério da Economia, que tem uma série de propostas em tramitação no Congresso, e entre os presidentes das Casas Legislativas.
No Supremo Tribunal Federal, a nota também foi vista como um avanço nas relações com o presidente, mas ainda há desconfiança sobre o recuo de Bolsonaro.
E Eu Com Isso?
Os fortes ruídos políticos colocavam em risco a continuidade da agenda de reformas para o restante deste mandato e – mais grave ainda – praticamente inviabilizavam a solução construída entre os Poderes para os precatórios, colocando em xeque, também, o cumprimento do teto de gastos para 2022.
Com o gesto de pacificação, Bolsonaro contradiz sua postura de apenas dois dias atrás e frustra sua base mais fiel em prol de um ambiente político minimamente funcional. É por isso que a bolsa brasileira acabou repercutindo de maneira muito positiva a divulgação da nota.
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