Na quinta-feira (15), as duas principais lideranças econômicas dos Estados Unidos fizeram comentários pessimistas sobre a conjuntura.
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, disse em seu segundo dia de depoimento no Congresso que a alta de preços que vem sendo observada nos Estados Unidos está “desconfortavelmente acima” dos objetivos do Fed.
No entanto, como vem dizendo há meses, Powell repetiu que as pressões são transitórias.
Afirmou que os índices estão sendo distorcidos devido à base de comparação muito baixa. E reiterou que “a alta dos índices vem sendo provocada por um grupo pequeno de bens e serviços, que estão ligados diretamente à reabertura da economia”.
O presidente do Fed disse que está monitorando a inflação, mas que não vê pressa para alterar a política monetária enquanto não houver uma recuperação do total do emprego.
Ainda há 7,5 milhões de vagas fechadas pela pandemia que não foram reabertas, disse ele. E concluiu que os juros deverão permanecer perto de zero até pelo menos 2023.
Enquanto Powell falava no Senado, Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos, concedia uma entrevista à rede de notícias econômicas CNBC.
Yellen afirmou estar preocupada com os problemas que a inflação pode causar, especialmente para os consumidores de baixa renda, e disse que os preços deverão permanecer subindo significativamente por alguns meses.
Demonstrou também preocupação sobre eventuais efeitos de aumento nas taxas sobre a parcela da população que hoje está adquirindo sua primeira moradia.
“Não acho que a inflação vá desaparecer no curto prazo, ela só vai retornar a níveis normais em alguns meses”, disse ela. “E temos de observá-la cuidadosamente.”
Em circunstâncias normais, declarações como essas provocariam fortes quedas nos preços das ações.
De fato, na quinta-feira o índice americano S&P 500 caiu. Porém, a queda foi de apenas 0,32%. No pior momento do dia, a queda foi de 0,66%, seguida por um rápido retorno aos níveis anteriores.
Essa entidade conhecida como mercado passou a ignorar o que a secretária do Tesouro e o que o presidente do Fed estão dizendo?
Não é bem assim.
Quando Powell garante que as medidas de estímulo vão continuar, ele fornece combustível para o otimismo. Porém, quando suas declarações são mais pessimistas, os investidores têm aparentado dar menos importância a elas.
É como se o otimismo tivesse um peso específico maior do que o pessimismo, ainda que a fonte das declarações seja a mesma.
A explicação para isso parece simples.
Há muito dinheiro em circulação no mercado. Em circunstâncias normais, indicações das autoridades monetárias e econômicas de que a inflação está alta ou que alguma variável está fora de esquadro deveriam provocar uma retração nos fluxos de dinheiro para os ativos de risco.
Ao advertir contra excessos, o que os banqueiros centrais estão dizendo é “deixa o dinheiro em algum porto seguro e espere dias melhores”.
Só que as circunstâncias não estão nem são normais.
Há um excesso de dinheiro em circulação na economia global, e nada indica que o fluxo que encheu esse reservatório ao ponto de transbordar vai diminuir.
Ao contrário, a indicação de Powell é que as compras de títulos públicos e hipotecários vão seguir no mesmo ritmo.
Com tanto dinheiro chegando, mesmo declarações pessimistas são relativizadas.
Indicadores
O IGP-10 (Índice Geral de Preços – 10) desacelerou para 0,18% em julho ante 2,32% em junho.
O índice acumula alta de 15,52% no ano e de 34,61% em 12 meses.
A desaceleração deveu-se aos preços das commodities agrícolas.
O IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) caiu 0,07% em julho, após ter subido 2,64% em junho.
O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) variou 0,70% em julho ante 0,72% em junho.
E o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) desacelerou para 1,37% em julho ante 2,81% em junho. As informações são da FGV (Fundação Getulio Vargas).
E Eu Com Isso?
O último pregão da semana começa com os contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500 apresentando uma leve alta, ainda motivados pela perspectiva de manutenção de uma política monetária expansionista nos Estados Unidos
As notícias são positivas para o mercado.
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