Quando avisada da possibilidade de maior desidratação da PEC Emergencial, cuja votação estava prevista para essa terça-feira (9), na Câmara dos Deputados, a equipe econômica ligou o alerta vermelho na Esplanada dos Ministérios e teve que “chamar os bombeiros” para evitar uma catástrofe maior.
Vale ressaltar que, dessa vez, o fogo foi amigo: no início da semana, foi o próprio presidente Bolsonaro que, após se reunir com o relator da PEC, deputado Daniel Silveira (PSL-SC), anunciou que pretendia retirar “três dos cinco” trechos relacionados às contrapartidas fiscais. De natureza eminentemente política, Bolsonaro entendia que não seria possível desagradar bases aliadas importantes, como a bancada da segurança pública e a bancada ruralista.
Acontece que, no atual cenário, qualquer fagulha pode ser motivo de explosão – ou melhor, implosão – das contas públicas e das expectativas futuras com relação à economia. Quem teve de parar o ímpeto de desidratação, em 24 horas intensas de negociação política entre as partes, foi Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central e figura com ótimo trânsito entre parlamentares. A mensagem foi clara: afrouxar a PEC Emergencial poderia tornar “impossível segurar juros e inflação”.
Campos Neto contou também com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para evitar que o texto fosse modificado. A sessão plenária tinha hora para começar no início da tarde desta terça (9), mas foi convocada, de última hora, uma reunião de líderes partidários às 15h justamente para alinhar a decisão de não modificar o texto vindo do Senado. Pesou a favor, evidentemente, a urgência de aprovação da medida, já que ela é base para a nova rodada de pagamentos do auxílio emergencial.
Junto ao relator da PEC, Lira foi conversar com Bolsonaro para informá-lo da decisão dos líderes de não mudar o texto e, segundo ele, foi muito bem recebido. Era hora de olhar para o país e não para as corporações de uma classe ou outra. Tendo a questão sido pacificada, foi até possível já aprovar o texto-base da PEC Emergencial na Câmara em primeiro turno, na madrugada, com 341 votos favoráveis e 121 contrários. O segundo turno e a votação de destaques devem ocorrer na manhã desta quarta (10).
Indicadores
A primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de março apresentou alta de 1,95 por cento, ficando praticamente estável na comparação com o primeiro decênio de fevereiro, cuja alta foi de 1,92 por cento. Com o resultado, a taxa em 12 meses passou de 28,17 por cento para 29,83 por cento. Destaque para a aceleração de grupos de bens intermediários (2,34 por cento para 5,32 por cento) e finais (0,21 por cento para 1,62 por cento), indicando uma maior difusão nos preços.
E Eu Com Isso?
O pregão da terça (9) até amenizou o estresse nos DIs futuros e no dólar, com o Ibovespa recuperando parte do tombo maior sentido no início da semana. O movimento deve continuar nesta quarta (10). Não obstante os esforços de algumas alas do governo, o resultado final pode ser considerado positivo e indica que o Legislativo tem tido uma postura mais responsável – destacando-se, inclusive, do Executivo – no que diz respeito às contas públicas brasileiras e ao futuro da trajetória fiscal do País.
Ainda, o desfecho demonstra que a equipe econômica segue conseguindo colocar freios e contrapesos em matérias que lhe dizem respeito. Com a aprovação, em definitivo, da PEC, investidores devem adotar tom mais positivo para o pregão desta quarta. Os contratos futuros do Ibovespa operam em alta de quase 1 por cento no início do dia.