Os Bancos Centrais partem para o ataque – Investidores se animam com perspectiva de ação de estímulo coordenada
A segunda-feira (2) tinha tudo para começar como mais um dia catastrófico nos mercados. Logo cedo, a China divulgou a maior retração da atividade industrial já registrada desde que o pulso da indústria começou a ser medido regularmente. O Índice de Gerentes de Compras (PMI na sigla em inglês) Caixin Markit de fevereiro caiu para 40,3, queda de 21,14 por cento ante os 51,1 registrados em janeiro. Ademais, veio muito abaixo dos 45,7 previstos pelo mercado. Como a maioria dos índices desse tipo, o PMI Caixin Markit oscila entre zero e 100. Medições abaixo de 50 indicam contração da atividade econômica. A pesquisa mostrou que a produção e as novas encomendas à indústria despencaram para os piores níveis já registrados. Por isso, o emprego foi muito prejudicado.
Não foi a única queda. Nesta manhã, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu sua previsão para o crescimento global de 2020. A redução foi de 0,5 ponto porcentual, de 2,9 por cento para 2,4 por cento. Além disso, a Organização fez isto de olho nos impactos econômicos do coronavírus. Este é o nível mais baixo desde 2009.
A retração da economia chinesa tinha tudo para provocar mais uma sessão de pânico nos mercados. Em suma, ela deve prejudicar inúmeros países que fazem muitos negócios com a China. No entanto, as ações subiram na Ásia devido a expectativas de que os principais bancos centrais devem reduzir os juros e anunciar medidas de estímulo econômico. No fim da semana passada, diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizaram que podem baixar as taxas em 50 pontos-base (centésimo de ponto percentual). Isso seria feito na reunião de 17 e 18 de março.
Cenários asiático e brasileiro
Medidas semelhantes devem ser propostas pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Banco do Japão. O movimento deve começar nesta terça-feira (3), dia da reunião do banco central da Austrália. Embora menos relevante, seu movimento pode indicar o começo de uma tendência do mercado.
A expectativa levou a um movimento de alta nos mercados asiáticos. O índice SSE Composite, da bolsa de Xangai, subiu 3,15 por cento. Enquanto isso, o índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, subiu 0,95 por cento. O Hang Seng, de Hong Kong, por sua vez, fechou em alta de 0,62 por cento. Na Europa, após avançar 2,8 por cento na abertura, o FTSE da Bolsa de Londres está em queda de 0,68 por cento. Os contratos futuros do S&P 500 caem 0,82 por cento. Já os contratos futuros do Ibovespa com vencimento em abril abriram com uma leve alta de 0,46 por cento.
Os mercados de commodities ajudaram na recuperação. Os preços do petróleo saltaram 1,49 por cento para 50,71 dólares por barril, na esperança de um corte mais profundo na produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), depois de atingir os mínimos de vários anos. A Opep fará uma reunião de dois dias na quinta-feira (5) e na sexta-feira (6) em Viena.
Nos próximos dias o mercado vai apresentar muita volatilidade. A pressão de alta devido à expectativa da ação dos bancos centrais vai se contrapor às eventuais notícias negativas sobre a expansão do coronavírus e sobre o impacto dessa expansão na economia. No caso do Brasil, espera-se uma sinalização mais forte do Banco Central (BC).
INDICADORES
O primeiro boletim Focus de março mostra que o coronavírus já reduziu a projeção de crescimento da economia brasileira em 2020. A previsão caiu para 2,17 por cento ante 2,20 por cento na semana anterior. Os prognósticos para a inflação também caíram, ainda que levemente. A variação do IPCA projetada para março recuou de 3,20 por cento para 3,19 por cento. Já a projeção do dólar para o fim do ano subiu de 4,15 reais para 4,20 reais.
No caso da inflação, o Índice de Preços ao Consumidor – Semana (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV) referente à semana encerrada em 29 de fevereiro caiu levemente, mostrando uma pequena retração de 0,01 por cento. Ademais, o IPC-S ficou 0,18 ponto percentual abaixo da taxa registrada na última divulgação. Em suma, com este resultado, o indicador acumula alta de 0,58 por cento no ano e de 3,76 por cento nos últimos 12 meses.
Por fim, a FGV também divulgou, nesta segunda-feira, o Índice de Confiança Empresarial (ICE), que mostrou uma queda de 0,5 ponto em fevereiro, para 97,2 pontos, após oito meses em alta. Em médias móveis trimestrais, o índice manteve a tendência de alta e subiu 0,6 ponto.
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