Levante Ideias - Banco Central

O dilema do Copom

O maior elogio para o regime de metas de inflação foi que ele completou 20 anos no início do ano passado e pouca gente parou para comemorar esse aniversário. O regime tornou-se tão prevalente e tão indiscutível que parece ter estado sempre aí. Longe disso. O regime de metas foi lançado às pressas no início de 1999, ainda sob a turbulência da flutuação do real em relação ao dólar. Só um número basta para mostrar como a economia brasileira ia mal naquele momento: a taxa referencial Selic superava 49 por cento ao ano.

Desde então, a estratégia de balizar formalmente a política monetária com base no comportamento dos preços tornou-se uma unanimidade na economia. Ninguém discute que o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne oito vezes por ano, tem a palavra final sobre a taxa de juros e, por definição, sobre a situação da economia. Apenas durante um breve período, durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, o Banco Central (BC) esticou a corda e baixou artificialmente os juros, apesar da alta dos preços. O resultado, todos sabemos, foi catastrófico. Com a volta da sanidade econômica, a ancoragem das expectativas e uma inflação bem-comportada permitiu a queda da Selic aos atuais 2 por cento ao ano, menor patamar da história.

Nesta terça-feira (27) se inicia a 234ª reunião do Copom. Exatamente por sua competência ser indiscutida, esta reunião, que será a penúltima do ano, será acompanhada de perto por essa entidade conhecida como mercado. Por um lado, os prognósticos para a economia permanecem tenebrosos: a edição mais recente do Boletim Focus indica uma retração de 4,81 por cento para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Apesar de um pouco menos ruim que os 6,5 por cento esperados no pior momento da pandemia, mesmo assim esse pode ser o pior resultado para um ano específico desde o início da medição dos dados. Com a economia real assim, a recomendação do livro-texto é baixar mais os juros.

No entanto, os índices de preços têm mostrado uma alta superior ao que seria de se esperar. Tanto índices gerais, como o IGP-M e o IGP-DI, quanto índices de preços ao consumidor, como o IPCA (que baliza a política monetária) vêm mostrando um aumento sistemático de preços. Os motivos são a depreciação do real em relação ao dólar e um aumento global dos preços das commodities devido à demanda aquecida da China. Inflação se acelerando, ainda que abaixo da meta de 3,5 por cento prevista para 2020, indicaria um aumento de juros, ou pelo menos uma sinalização de alta na Selic. E ainda há um complicador: a incerteza com relação à política fiscal pode pressionar os prêmios para a rolagem da dívida pública, o que traz ainda mais indefinição aos juros. A forma como o BC vai se comportar tendo em vista esses dois movimentos vem causando grande expectativa. Por isso a grande expectativa com o resultado dessa reunião do Copom.

INDICADORES 1 – O Índice Nacional de Custo da Construção – M (INCC-M) subiu 1,69 por cento em outubro, percentual superior ao apurado no mês anterior, quando o índice registrou taxa de 1,15 por cento. Com este resultado, o índice acumula alta de 6,34 por cento no ano e de 6,64 por cento em 12 meses, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). A taxa do índice relativo a Materiais, Equipamentos e Serviços passou de 2,40 por cento em setembro para 3,37 por cento em outubro. O índice referente à Mão de Obra variou de 0,06 por cento em setembro para 0,19 por cento em outubro.

INDICADORES 2 – O Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio Vargas, avançou 3,7 pontos em outubro atingindo 95,2 pontos, o maior valor desde março de 2014 (96,3 pontos). Em médias móveis trimestrais, o ICST avançou pelo quarto mês consecutivo, com variação de 3,8 pontos em relação ao mês anterior.

Os contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500 abriram em alta, em uma sessão indefinida e com os investidores à espera de notícias mais concretas sobre o pleito nos Estados Unidos e a progressão da segunda onda de contaminações pelo coronavírus. Com isso, os pregões deverão ser marcados pela volatilidade.

* Este conteúdo faz parte do nosso boletim diário: ‘E Eu Com Isso?’. Todos os dias, o time de analistas da Levante prepara as notícias e análises que impactam seus investimentos. Clique aqui para receber informações sobre o mercado financeiro em primeira mão.

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