Há duas camadas de informação no Comunicado divulgado na noite da quarta-feira (5) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) após o encerramento da reunião de maio. A primeira camada confirmou as expectativas de 100 por cento dos investidores ao elevar a taxa referencial Selic em 0,75 ponto percentual, para 3,50 por cento ao ano. Em poucas ocasiões na história recente da política monetária houve tantas certezas do que o Copom faria. Então, não é necessário que nos alonguemos sobre esse assunto.
A segunda camada de informação, porém, merece um pouco mais de atenção. O Copom indicou que as taxas de juros poderão subir para 4,25 por cento ao ano na próxima reunião, marcada para os dias 15 e 16 de junho. “Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada uma normalização parcial da taxa de juros, com a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica”, diz o texto do Comunicado. Com uma ressalva importante que pode não ser bem assim. “O comitê enfatiza, entretanto, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação.” É conveniente lembrar que, na edição mais recente do Boletim Focus, a projeção para a taxa referencial Selic em dezembro deste ano é de 5,5 por cento.
Em termos de perspectivas para a economia brasileira, o Copom ficou em cima do muro. No começo do Comunicado, ele disse que “indicadores recentes mostram uma evolução mais positiva do que o esperado (…) a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia ainda permanece acima da usual, mas aos poucos deve ir retornando à normalidade.” Mais adiante, afirmou que “o processo de recuperação econômica dos efeitos da pandemia pode ser mais lento do que o estimado”.
Com relação ao cumprimento da meta de inflação, que é o que realmente importa para o Copom, o Comunicado também trouxe poucas certezas. Declarou que a recuperação mais lenta da atividade vai produzir uma “trajetória de inflação abaixo do esperado” para, logo depois, afirmar que “o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.”
Com tudo isso, até onde a Selic pode subir? Isso nem o Copom sabe. Apesar de sua excelência em análises da conjuntura, os membros do Comitê padecem da mesma dificuldade dos demais seres humanos, a impossibilidade de saber o que vai ocorrer no futuro. E há pelo menos três variáveis, todas muito imprevisíveis, a considerar. A saber i) a velocidade de imunização dos brasileiros, ii) o ritmo de normalização das economias com as quais o Brasil tem relações comerciais importantes e iii) os desdobramentos das dificuldades políticas pelas quais passa o governo. Tudo isso eleva as incertezas dos investidores. E incertezas mais elevadas significam dificuldades adicionais para ancorar as expectativas, o que pode obrigar o BC a apertar ainda mais os juros no decorrer deste ano.
Indicadores econômicos
O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) subiu 1,6 ponto em abril, para 78,7 pontos. Em médias móveis trimestrais, o IAEmp cedeu em 1,6 ponto, para 79,6 pontos. Com o resultado, o indicador recuperou 18 por cento da queda acumulada nos últimos três meses, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV).
Cenário Internacional
O número de pedidos iniciais de seguro-desemprego nos Estados Unidos caiu para 498 mil na semana encerrada em 1º de maio, uma baixa de 92 mil pedidos em relação à semana anterior, informou o Departamento do Trabalho americano na manhã desta quinta-feira. Foi o menor nível desde 14 de março de 2020, quando houve 256 mil de pedidos iniciais de seguro-desemprego. Na média móvel de quatro semanas, o número de pedidos caiu para 560 mil, uma queda de 61 mil pedidos ante o levantamento anterior. Também foi a menor média móvel desde os 225,5 mil pedidos de 14 de março de 2020. A taxa de desemprego permaneceu inalterada em 2,6 por cento.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros do Ibovespa e do índice americano S&P 500 operam perto da estabilidade em terreno levemente negativo, na expectativa de indicadores econômicos importantes nos Estados Unidos, como o nível dos pedidos iniciais de seguro-desemprego. O cenário deve ser marcado por uma volatilidade elevada.
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