Depois de desabar ao redor do mundo durante a quinta-feira (12), os mercados europeus iniciaram a sexta-feira (13) em alta. O índice alemão Dax subia 3,32 por cento, a 94.465 pontos. Em Londres, o índice FTSE de 100 ações avançava 4,50 por cento, a 5.473 pontos. E mesmo na Itália, onde a economia foi mais duramente afetada pela epidemia do coronavírus, as ações estão em alta. O índice FTSE/Mib da Bolsa de Milão tinha valorização de 8,44 por cento, a 16.152 pontos.
Boa parte da recuperação dos mercados europeus foi simplesmente técnica. Depois de amargarem as maiores quedas em muitos anos, em uma baixa que drenou um trilhão de dólares em valor de mercado das empresas europeias, os investidores resolveram ir às compras e aproveitar as várias pechinchas à disposição nos pregões.
Outra fatia da recuperação deveu-se à atuação dos bancos centrais de diversos países. A decisão mais importante foi do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que anunciou, na quinta-feira (12) a concessão de 1,5 trilhão de dólares em empréstimos de curto prazo aos bancos para conter oscilações no mercado. Na madrugada, o Banco do Povo, o banco central chinês, anunciou que iria injetar 79 bilhões de dólares no sistema financeiro nacional, após haver reduzido os depósitos compulsórios para estimular a economia.
A atuação dos BCs começou com os cortes de taxas na semana passada. O Fed baixou, inesperadamente, os juros em meio ponto percentual no dia 3 de março, reduzindo as taxas para a faixa entre 1 por cento e 1,25 por cento. Esse movimento foi seguido pelos BCs da Inglaterra e da Austrália nos dias que se seguiram. Na próxima semana, o Fed fará sua reunião habitual de março, e deve anunciar cortes suplementares nos juros.
Todas essas decisões de afrouxamento na política monetária visam estimular a economia e conter a retração provocada tanto pelo coronavírus quanto pelas quedas nos preços do petróleo. No entanto, segundo os especialistas do mercado americano, a reunião da próxima semana será realizada em um dos ambientes mais incertos das últimas décadas.
O grande problema para os formuladores de políticas monetárias – e para todos os agentes econômicos, de modo geral – é tentar conduzir seus negócios em um terreno completamente desconhecido e desprovidos de mapa. Como o coronavírus é uma doença nova, ainda não é possível saber qual seu impacto efetivo para a economia. Assim, o risco de se errar nas dosagens dos remédios econômicos, oferecendo estímulos em excesso ou insuficientes, é muito grande. E incerteza afeta os preços e aumenta a volatilidade no curto prazo.
Considerando-se a disparidade entre os mercados à vista e futuro, já há um espaço para esperar uma alta das ações. Na quinta-feira (12) o mercado à vista fechou com queda de 14,78 por cento e os contratos futuros de Ibovespa fecharam com queda de 10,52 por cento. Ambas desvalorizações abruptas, mas a queda no mercado futuro foi menor do que a dos preços à vista, o que abre espaço para uma correção técnica para cima nas ações. O quanto esse movimento vai durar, porém, é uma incógnita; pode ser que, após uma correção técnica para cima no início dos negócios, alguma notícia ruim sobre o desenvolvimento do coronavírus leve as ações de volta ao terreno negativo. Por isso, a volatilidade deve continuar.
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