Levante Ideias - Economia americana

Jackson Hole e Cabul

Esta sexta-feira (27) tem o potencial de ser um divisor de águas no mercado financeiro internacional. É possível – embora não haja certeza – que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, revele qual será a estratégia do Fed com relação às medidas de estímulo econômico adotadas pelas autoridades monetárias americanas para combater a pandemia.

Além de reduzir os juros para zero, o Fed passou a atuar como comprador de títulos para injetar liquidez no sistema financeiro e manter a economia funcionando.

Todos os meses são comprados US$ 120 bilhões, sendo 80 bilhões em títulos públicos e 40 bilhões em títulos hipotecários.

Essas medidas aceleraram a recuperação da economia, mas também provocaram fortes altas nos preços das commodities e das ações, e há temores de que a continuidade dessa expansão monetária acabe provocando inflação.

Esse é o xis da questão.

Índices americanos como o CPI (Consumer Price Index) estão mostrando uma aceleração excessiva dos reajustes de preços.

Porém, outros índices como o PCE (Personal Consumption Expenditures), que é usado pelo Fed para balizar a política monetária, não estão tão acelerados.

Ou seja, há argumentos técnicos tanto contra quanto a favor da interrupção das compras.

O ritual do Fomc (Federal Open Market Committee) é diferente da prática do Copom (Comitê de Política Monetária). O Sistema da Reserva Federal é composto de 12 bancos regionais, que se reportam ao banco central.

Os diretores desses 12 bancos e mais alguns formam o Fomc. O comitê tem 18 membros, mas nem todos têm os mesmos direitos ao voto.

Em alguns casos, o diretor tem de participar do processo por algum tempo para poder votar. Isso permite uma divergência de opiniões muito maior do que a do nosso Copom, em que todos os participantes são diretores do BC ou servidores de carreira. Isso abre muito mais espaço para divergências dentro do Fed.

E as divisões são claras.

Mary Daly, presidente do Fed de São Francisco, e John Williams, presidente do Fed de Nova York, são “pombos”. Estão favoráveis a uma política monetária mais frouxa e defendem a manutenção das compras.

Por outro lado, Robert Kaplan, presidente do Fed de Dallas é um “falcão”. Advoga pela interrupção das compras e por um aperto na política monetária.

Powell, que comanda o Comitê, tem adotado uma postura mais cautelosa, reiterando que é preciso analisar melhor os dados econômicos e o impacto da reabertura pós-pandemia antes de tomar uma decisão.

Por isso, seus comentários, esperados para esta sexta-feira, são tão importantes. No seminário realizado anualmente em Jackson Hole, uma estação de esqui no remoto estado do Wyoming, os diretores do Fed, outros banqueiros centrais e especialistas se reúnem para discutir as condições do sistema financeiro e os desdobramentos da política monetária.

Desde os anos 1990, o lendário ex-presidente do Fed Alan Greenspan tornou o evento relevante para quem quisesse entender como o banco central americano estava olhando a economia.

E a reunião que começou formalmente ontem, mas que terá seu máximo nesta sexta-feira, é uma das mais importantes nesse aspecto.

Porém, nem só as estações de esqui no Wyoming são notícia.

Na quinta-feira (26), um atentado a milhares de quilômetros dali inseriu mais um elemento para ampliar a turbulência do mercado.

Em Cabul, capital do Afeganistão, dois homens-bomba realizaram um atentado que matou 13 soldados americanos e cerca de 90 civis afegãos que tentavam deixar o país.

Isso colocou em xeque o governo de Joe Biden. Ele vinha prometendo uma retirada organizada da tropas americanas do Afeganistão, a se encerrar no dia 11 de setembro, 20 anos após os atentados aos World Trade Center em Nova York.

Entretanto, a retomada do poder pelo Taleban mostra que essa expectativa foi frustrada e que o país pode voltar a ser um berçário de terroristas, com implicações desestabilizadoras por todo o Oriente Médio.

Claro, isso provocou um aumento nos preços internacionais do petróleo.

Nesta manhã, os contratos futuros do petróleo Brent com vencimento em novembro estão em alta de 1,6%, a US$ 71,28 por barril.

E Eu Com Isso?

Os contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500 iniciam a sexta-feira em alta, corrigindo a desvalorização da véspera, mas o mercado pode apresentar uma volatilidade elevada devido tanto às declarações em Jackson Hole quanto aos desdobramentos da situação em Cabul.

As notícias são positivas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.

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Leia também: Sobre a inflação americana.

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