A semana teve uma importante agenda de referência para as expectativas em relação à política de juros, a ser implementada no Brasil, ou o que se pode esperar em termos de ajuste da taxa básica.
Saiu a ata da reunião do Comitê de Política Monetária da semana passada, o Relatório Trimestral de Inflação e novos índices de preços. E não houve muita mudança nas expectativas, além da deflagrada pela última elevação da Selic e o comunicado do Copom.
Os juros vão subir mais que era esperado até chegarem ao patamar neutro, diante de pressões inflacionárias que devem prosseguir por uma série de fatores.
Ainda que se possa contar com o dólar em nível mais baixo, até por reflexo da elevação dos juros, e com alguma acomodação dos preços de commodities, a inflação, além de continuar rodando muito acima do teto da meta, ainda sente o impacto das commodities mais caras sobre os preços de varejo e da falta de alguns materiais e insumos, por desequilíbrios entre oferta e demanda, provocados pelas incertezas relacionadas à pandemia.
Por outro lado, a retomada da atividade ainda tende a dar margem para mais aumentos de preços e, no cenário interno, tem todo o risco relacionado à crise hídrica. A forte correção que deve ser aplicada sobre as bandeiras tarifárias deve ter impacto significativo sobre as contas de energia, afetando também os custos para as empresas, com possível repasse para os preços de produtos e serviços. Isso, além do que deve ocorrer apenas pela retomada da atividade pós fase mais pesada da crise sanitária.
Nessa questão da energia, o próprio BC vê um possível impacto negativo sobre a atividade, que não é descartado nem pelo Ministério da Economia. Paulo Guedes falou em um “racionamento” provocado pelos preços. Seria a redução do consumo de energia para evitar despesas maiores, o que, de fato, pode ter alguma implicação sobre o ritmo de retomada. Sem esquecer da possibilidade de ser imposto algum tipo de racionamento, para evitar o risco de apagões, dada a gravidade da crise hídrica. O Ministério das Minas e Energia vem buscando amparo legal para as medidas que pretende tomar para gerenciar a crise.
Mas, mesmo com algumas incertezas relacionadas à atividade, a expectativa é de aceleração do crescimento, com uma expansão do PIB que deve ficar entre 5 e 6% este ano.
Essa projeção e mais a lista de fatores citados, que podem influenciar a trajetória da inflação, devem confirmar uma elevação maior dos juros básicos até o final do ano. Movimento que ainda pode ter o reforço das especulações constantes quanto ao corte de estímulos e antecipação da alta dos juros pelo Federal Reserve, nos Estados Unidos. Indicação que poderia limitar o impacto da alta dos juros por aqui, especialmente via câmbio.
Esse cenário de juros em alta já tem favorecido as aplicações de renda fixa, com o aumento do interesse dos investidores, especialmente, os de perfil mais conservador.
As incertezas fiscais e políticas do País também colaboram, já que trazem algum risco adicional de maior volatilidade dos ativos, o que, inclusive, também reforçaria a já prevista tendência de alta mais forte dos juros. CPI da Covid, crise hídrica, ampliação dos gastos com foco nas eleições, jabutis por interesse político, incluídos na agenda de pautas relevantes podem, inclusive, atrapalhar a esperada acomodação do câmbio, decorrente da alta dos juros. Dólar baixo se, tudo mais, correr dentro do previsto.
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