Praticamente passadas as eleições americanas e a menos de uma semana das eleições municipais de 2020, novamente os investidores não devem receber muitos insumos do noticiário político nesses próximos dias. Assim, as maiores novidades de Brasília vêm principalmente da declaração de líderes relevantes sobre pautas que interessam ao mercado.
É o caso da entrevista de Rodrigo Maia a uma emissora de televisão brasileira nesta segunda (9). Segundo o presidente da Câmara, que já pensa nas eleições legislativas de 2021 – seja para tentar mais um mandato na Casa ou para promover o seu eventual candidato – o governo tem pecado na demora para avançar com a agenda de equilíbrio fiscal, que traria mais tranquilidade ao mercado em relação às contas públicas de 2021. Maia ponderou que o Brasil poderia “explodir” em Janeiro caso nada fosse feito, com o dólar chegando ao patamar dos 7 reais e a inflação fora de controle.
O deputado voltou a criticar a obstrução dos partidos da base aliada sobre a pauta da Câmara, assim como a atuação da oposição – que se nega a votar qualquer pauta antes de discutir a Medida Provisória 1000/20, que prorroga o auxílio emergencial até dezembro deste ano. A próxima sessão plenária da Casa está marcada para a terça-feira que vem (17), com o novo marco legal da cabotagem (pauta de interesse do governo) prevista para votação, entre outras matérias.
Evidentemente, a postura de Maia deve ser lida nas entrelinhas. Desde meados de outubro, o Presidente da Câmara vem adotando postura mais crítica em relação ao governo e sua base aliada, uma vez que ambas as partes não têm acordo sobre quem apoiar nas eleições legislativas de fevereiro de 2021 – eleições que vão definir quem será o próximo presidente da Câmara e do Senado até o fim do atual mandato de Bolsonaro.
Nesse contexto, o contraponto do atual Presidente da Câmara causa incômodo no Palácio do Planalto, em que o diagnóstico é que a agenda orçamentária e de ajuste fiscal será retomada assim que o primeiro turno das eleições estiver encerrado. É inegável, contudo, que o Executivo precisa definir uma articulação para esse fim de ano, a fim de não permitir que pautas caras ao governo e ao próprio mercado não tenham desfecho negativo, o que poderia minar a confiança dos investidores no futuro da economia do País.
Ainda que a postura de cobrança do chefe da Câmara seja incômoda, ela deve ter efeito negativo secundário nos mercados para o pregão de hoje. Há expectativas de que, passadas as eleições municipais, deputados e senadores – principalmente da base aliada, liderados pelo governo – se organizem para votar os temas atrasados.
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