As decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) e do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) divulgadas na quarta-feira (16) vieram ao encontro das expectativas dos investidores e forneceram novos elementos para que eles tracem suas estratégias de investimento.
Apesar de formalmente parecidas, as decisões tomadas por Roberto Campos Neto e por Jerome Powell mostram que Brasil e Estados Unidos estão em momentos diferentes do mesmo cenário.
Em ambos os casos, os juros se comportaram como o esperado. No Brasil, o Copom confirmou as expectativas e elevou a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, para 4,25% ao ano.
Nos Estados Unidos, a taxa referencial permaneceu na faixa entre zero e 0,25% ao ano. No entanto, o que mudou em ambos os casos foi a sinalização para o futuro.
No caso brasileiro, o Comunicado do Copom, divulgado logo após a reunião, retirou do texto o termo “ajuste gradual”.
Como esses comunicados são escritos pesando-se cuidadosamente cada palavra, a interpretação é que o Comitê se considera livre para continuar elevando os juros de maneira a fazer a inflação convergir para o centro da meta.
O objetivo estabelecido para a inflação em 2021 é de 3,75%, e a meta para 2022 é ainda mais estrita, de 3,5%.
Considerando-se a tolerância, o máximo permitido são 5,25%. A inflação em 12 meses pelo IPCA está em 8,06%, e a alta das commodities e das tarifas de energia elétrica deve manter a pressão altista nos preços.
Na prática, isso quer dizer mais elevações da Selic à frente. A expectativa da edição mais recente do Boletim Focus é de 6,25% para a taxa de juros referencial em dezembro. Ou seja, é de se esperar pelo menos mais uma elevação na reunião do Copom em agosto.
No caso dos Estados Unidos, o Fed manteve os juros inalterados, mas colocou em discussão uma redução da compra de títulos públicos, que vem injetando US$ 120 bilhões por mês na economia americana desde os primeiros meses da pandemia.
Além disso, o BC americano sinalizou que poderá elevar os juros em 2023, talvez realizando até duas altas. Isso antecipou o que era esperado pelos investidores.
Até a reunião de ontem, a expectativa era de que a alta dos juros americanos só começasse em 2024. As estimativas dos governadores regionais do Fed para a inflação de 2021 também aumentaram. Subiram um ponto percentual, para 3,4%.
Acabou a festa no mercado acionário?
Vamos com calma. A melhor comparação é futebolística. Nos Estados Unidos, o jogo para o investidor está nos 35 minutos do segundo tempo. Por aqui, o segundo tempo só começou agora.
Explicando. Por lá, depois de tomar vários gols da pandemia nos primeiros 45 minutos, a economia está em um movimento franco de recuperação. Já empatou a partida e deve virar o jogo no próximo ataque.
Assim, o mercado acionário americano já subiu bastante e cravou vários recordes devido às políticas de estímulo. Com sua retirada, as condições econômicas devem retornar a algo parecido com a normalidade, mas tendo se recuperado da crise.
Por aqui, só agora a vacinação começa a mostrar resultados. O fim das medidas de isolamento, que tem efeitos devastadores sobre o PIB (Produto Interno Bruto) está à vista, mas ainda não chegou.
Dessa forma, depois de tomar vários gols da pandemia, a economia brasileira voltou do vestiário revigorada, pronta para tentar virar o jogo. Só que ainda há 45 minutos pela frente, e o time adversário não entregou os pontos.
Para os investidores, isso quer dizer que ainda há boas oportunidades na Bolsa, especialmente empresas dos setores que ainda estão atrasados devido à crise do ano passado.
E mesmo ações “caras”, como as das empresas de commodities, ainda podem apresentar bons resultados devido ao crescimento internacional.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500 iniciam o dia em baixa, em uma reação às decisões do Copom e do Federal Reserve.
O movimento do mercado no curtíssimo prazo deve ser de queda.
As notícias são negativas para a Bolsa.
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