Entenda as consequências do surto chinês sobre os mercados
As notícias mais recentes sobre o surto global de coronavírus têm um aspecto assustador. Na noite da quinta-feira (30), o governo americano decretou um alerta de nível 4, o mais grave, dizendo aos cidadãos dos Estados Unidos para não ir para a China. Mais cedo, na quinta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou uma emergência global de saúde devido à rápida expansão do número de contaminados pelo coronavírus. Na manhã desta sexta-feira (31), o governo chinês anunciou que o número de contaminações havia chegado a 9.600, com 213 vítimas fatais. Fim dos tempos? Calma. Não há dúvida de que a situação é séria. No entanto, como qualquer risco, a incerteza sobre o coronavírus tem de ser corretamente calculada.
Uma explicação rápida. Há sete tipos de coronavírus conhecidos. Quatro deles afetam seres humanos e provocam gripes e resfriados leves. Dois deles infectam morcegos. É preciso lembrar que o sistema imunológico do morcego é peculiar: o animal pode estar infectado por diversos vírus e bactérias. Como tem uma enorme resistência, o morcego não desenvolve as doenças, mas pode transmiti-las pelas fezes. Em geral isso não é um problema, pois morcegos e seres humanos não convivem. Porém, na China, morcegos são comprados e vendidos como alimento. O surto do coronavírus começou em um mercado na cidade de Wuhan. A primeira vítima foi um homem de 61 anos que se infectou ao entrar em contato com os animais e seus dejetos. O inverno e a aglomeração provocada pela aproximação do feriado do Ano Novo Lunar fizeram o restante do serviço.
Uma lista de 213 mortes parece enorme. No entanto, o coronavírus provoca uma doença parecida com uma gripe forte. Gripes matam no inverno. Matam especialmente velhos, crianças e pessoas com saúde mais frágil. Basta pensar em uma estatística: no inverno de 2017-2018, a gripe matou 61 mil pessoas. Na China? Não. Nos Estados Unidos. Vamos ficar com esse número em mente. Nos Estados Unidos, país com o maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, onde o governo funciona, as estatísticas são claras e há um amplo acesso à informação, a gripe comum, que sempre chega quando as temperaturas baixam, vitimou 61 mil pessoas no inverno.
O coronavírus é uma ameaça, sim, e pode ser fatal, sim. No entanto, é exagerada a hipótese de uma pandemia generalizada com milhões de vítimas – como ocorreu entre 1918 e 1920, quando uma pandemia apelidada de gripe espanhola matou pelo menos 50 milhões de pessoas.
O que poucas pessoas perceberam nas declarações da OMS na quinta-feira é que, apesar de declarar uma emergência global, a Organização criticou, sem citar nomes, exageros como fechar as fronteiras (algo que a Rússia fez, lacrando 4.200 quilômetros de fronteiras com a China) e proibir viagens. Também criticou “medidas temerárias e exageradas”, como o fechamento de indústrias e estabelecimentos comerciais (como fez o governo chinês). Embora o alerta da A OMS não tenha força legal, a ideia é que a agência atue para reverter essas decisões nos próximos dias.
O coronavírus é uma infecção grave. No entanto, sua gravidade, sua letalidade e sua importância foram exageradas pelo noticiário e pela reação do governo chinês. Em 2002, Pequim demorou para agir no caso da epidemia da Síndrome Aguda Respiratória Grave (Sars), que matou 771 pessoas. Agora, para demonstrar sua atenção e sua disciplina, as autoridades tomaram as medidas mais duras possíveis, com um forte impacto sobre as expectativas. No entanto, o medo da epidemia está sendo mais prejudicial que a epidemia em si. E, com a redução da tensão, vai ficar claro o exagero. Ou seja, o coronavírus é uma oportunidade de compra, apesar de se esperar mais um pouco de volatilidade no curto prazo.
BRASIL – A agência de classificação de risco Standard & Poor’s Global Ratings informou, em relatório divulgado na quinta-feira (30), que poderá elevar o rating soberano do Brasil se a política econômica do governo melhorar a dinâmica do Produto Interno Bruto (PIB) para além das expectativas da instituição.
Em dezembro, a agência de classificação de risco revisou a perspectiva do País para positiva. Mesmo assim, segundo a instituição, a América Latina é a região mais suscetível para rebaixamentos, com cenários negativos para México e Argentina. “As razões para esse desempenho variam de país para país, mas o denominador comum na região é uma deterioração do panorama político que adiou uma reação apropriada às adversidades”, informou a S&P.
Com relação aos indicadores, o IBGE divulgou na manhã desta sexta-feira que a taxa média de desocupação caiu de 12,3 por cento em 2018 para 11,9 por cento em 2019. Foi a segunda queda anual consecutiva, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua. A pesquisa revelou um contingente de 12,6 milhões de pessoas desocupadas, no ano passado, 1,7 por cento a menos do que em 2018.
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