Na tarde da última terça-feira (11), a empresa de tecnologia Linx e a Stone, de pagamentos, anunciaram que estavam em negociações avançadas. Na noite do mesmo dia, a Stone anunciou a aquisição da Linx, num negócio avaliado em 6 bilhões de reais (90 por cento em dinheiro e 10 por cento em ações).
As ações da Linx tiveram alta antes do anúncio da aquisição durante o pregão, o que ligou os radares da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que começou logo no dia seguinte, quarta-feira (12), a averiguar se houve insider trading.
A escalada começou pouco depois das 10h da manhã sendo que a empresa havia previsto a divulgação de seu balanço para a segunda-feira à noite, com uma teleconferência na terça-feira, às 11 horas. A companhia não apenas não apresentou os números na noite do dia 10 (sem explicações) como cancelou a apresentação dos números, por meio de comunicado enviado à CVM, só às 9h59 dia seguinte — ou seja, uma hora antes da reunião virtual (teleconferência).
Na proposta da Stone também foi estabelecida uma multa de 605 milhões se uma das partes desistir do negócio, além de direito a pagamentos adicionais que podem caracterizar prejuízo aos minoritários.
Em meio a um intenso debate, na manhã de sexta-feira, 14, a empresa de tecnologia Totvs fez uma oferta de 6,1 bilhões de reais pela Linx, embolando a disputa. A Totvs questionou esta cláusula, em especial, chamando-a de “multa abusiva” contratada pela Linx com a Stone.
A disputa pela agora cobiçada Linx pode seguir impulsionando as ações LINX3 no curto prazo, mas acreditamos que o mercado esteja mais atento aos desdobramentos das investigações da CVM. Se for confirmado insider trading e/ou se intervirem a proposta da Stone, as ações podem devolver parte dos ganhos.
Deixando de lado se há ética ou não nos termos propostos pela Stone, acreditamos que a operação entre Linx e Stone tem mais sentido estratégico, pois verticaliza e dá uma competitividade extra a ambos os negócios, apesar de Totvs e Linx também se complementarem em termos de setores atendidos.
A oferta da Totvs, que soma 6,103 bilhões, é igual para todos os acionistas da Linx: cada acionista da Linx receberia uma ação da Totvs mais 6,20 reais por ação de sua titularidade, o que somaria 34,97 reais considerando o fechamento da última sexta-feira (27,77 reais). Ao fim, os acionistas da Linx teriam 24 por cento do capital total e votante da Totvs.
Totvs chegou a subir 4 por cento na última sexta depois do anúncio da oferta com Linx, mas acabou recuando ao longo do pregão.
Na operação da Stone, o acionista da Linx pega o dinheiro e vai para casa. Já na operação da Totvs, o acionista da Linx tem a chance de ser sócio dos benefícios da união das empresas. Em compensação, em uma, o lucro é quase integralmente assegurado na hora, enquanto na outra, a fatia em caixa é bem menor.
A participação da Linx no mercado de sistemas para o varejo cresceu três pontos percentuais no ano passado na comparação com o ano anterior e superou a soma das fatias de mercado do segundo, terceiro, quarto e quinto colocados, de acordo com a consultoria IDC
No segmento de comércio on-line, área que vem crescendo a passos largos nos últimos meses com a pandemia obrigando o varejo a fechar as lojas físicas, a Linx também vem ganhando participação, mas está na segunda posição com 13,7 por cento. O líder possui 20,8 por cento do mercado.
A expectativa é, que após o lance da Totvs ter se tornado público, a Stone venha a defender sua oferta com um aumento na proposta e pressão nos prazos até porque, agora, o valor de mercado da Linx já é de 6,25 bilhões de reais — mais do que o lance da Stone.
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