O ex-presidente Lula fez, nesta quarta (10), seu primeiro discurso após os desdobramentos no Supremo Tribunal Federal que o tornaram novamente elegível. Tocando em temas variados, de Covid-19 ao pré-sal e Petrobras, o petista fez questão de, sistematicamente, se antagonizar com o atual governo.
Vale observar alguns trechos do discurso: primeiro, como de praxe, o ex-presidente defendeu a retomada do crescimento econômico por meio de investimentos públicos, demonstrando ainda ter ligações íntimas com o desenvolvimentismo que provocou a enorme crise econômica de 2015 e 2016. Em segundo lugar, Lula também traçou uma linha contra a autonomia do Banco Central e contra as privatizações, demonstrando que sua eventual relação com o mercado teria esses gargalos. Por fim, exaltou a “empresa pública bem gerida” que era a Petrobras durante os governos petistas, convenientemente esquecendo que a gigante petroleira tornou-se a mais endividada do planeta no setor.
De resto, o ex-presidente se posicionou conforme o esperado: inverteu a narrativa da Operação Lava Jato, criticou o afrouxamento do acesso às armas de fogo no Brasil e usou e abusou do nacionalismo para se referir aos Estados Unidos. Direta ou indiretamente, após o ocorrido, Bolsonaro apareceu de máscara em cerimônia oficial no Planalto – algo raríssimo – para anunciar a entrega de 400 milhões de doses de vacina até o fim do ano. Nas redes, interlocutores do presidente iniciaram campanha em defesa da vacinação, com o slogan “nossa arma é a vacina”.
Por fim, Lula até chegou a acenar para o mercado ao se prontificar para conversas com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), duas das maiores entidades ligadas ao setor econômico do País. No pregão desta quarta, contudo, não foram sentidos efeitos do discurso nas negociações.
E Eu Com Isso?
O ex-presidente proferiu um discurso que o colocou de volta ao jogo político, de olho nas eleições presidenciais de 2022. A primeira derivada dos acontecimentos recentes é a antecipação do xadrez político envolvendo o pleito do ano que vem. A consequência negativa disso é a retirada do foco na atividade legislativa, diante de uma preocupação eleitoral cada vez maior. Reformas – que já têm um caminho difícil pela frente – podem ser prejudicadas, nesse sentido.
Especificamente sobre o petista, é extremamente provável que, até 2022, ele ainda seja considerado elegível, mesmo que as ações penais voltem a tramitar nos tribunais. Não parece haver tempo hábil para uma condenação em segunda instância – fato que o enquadraria na Lei da Ficha Limpa. Do ponto de vista dos mercados, uma eventual vitória do PT em 2022 seria, evidentemente, motivo para uma forte reação negativa nos ativos locais. Até lá, porém, há muito chão – e muitos pregões – para se percorrer.