Duas notícias chamaram a atenção para a China na manhã desta segunda-feira (17). A primeira notícia foi o crescimento da economia acima do esperado. O Escritório Nacional de Estatísticas da China divulgou os dados de crescimento da economia em 2021. No acumulado do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) chinês cresceu 8,1%, levemente acima do esperado, que era 8,0%. No quarto trimestre, o avanço do PIB foi de 4,0% em relação ao mesmo período de 2020, ante projeções de 3,6%.
A segunda notícia foi o afrouxamento da política monetária. O Banco do Povo da China, o banco central chinês, cortou em 0,1 ponto percentual a taxa de juros referencial de médio prazo, reduzindo-a para 2,85% ao ano. Foi a primeira redução desde abril de 2020. Na prática, isso quer dizer mais dinheiro no sistema. O Banco do Povo está ampliando as linhas de crédito dos bancos em 700 bilhões de yuan, ou US$ 110 bilhões.
A economia chinesa está crescendo acima do previsto e o governo cortou os juros e vai injetar liquidez no mercado. Contradição? Não. Uma análise mais cuidadosa dos números mostra que, apesar do bom desempenho no trimestre e no acumulado do ano, a economia não está em sua melhor forma.
O crescimento de 4,0% no quarto trimestre foi inferior ao avanço de 4,9% alcançado nos três meses anteriores. Mais do que isso, o crescimento trimestral foi o menor desde o “fundo do poço” do segundo trimestre do ano passado, quando as restrições impostas pela pandemia fizeram a economia chinesa crescer “apenas” 3,2%.
A economia cresceu menos na comparação trimestral porque surtos esporádicos de coronavírus resultaram em bloqueios rígidos que prejudicaram o consumo. Ao mesmo tempo, os problemas no setor imobiliário, com a inadimplências da incorporadora Evergrande, reduziram a confiança dos empresários.
Outra indicação de que a economia chinesa está perdendo o fôlego foi, paradoxalmente, uma notícia positiva divulgada na sexta-feira (14). A Administração Geral de Alfândegas informou que superávit comercial chinês em 2021 foi um recorde, chegando a US$ 676,4 bilhões, um aumento de cerca de 30% em relação ao ano anterior. As exportações e as importações também cresceram cerca de 30%.
O bom desempenho do comércio exterior indica um aumento da demanda pelos principais parceiros comerciais chineses. No entanto, mesmo positiva, essa notícia indica que o principal vetor do crescimento no ano passado foram as exportações, e que a economia chinesa está mais lenta.
Outros indicadores mostram isso. A produção industrial cresceu 4,3% em dezembro ante o mesmo mês de 2020. O resultado foi superior aos 3,8% de novembro e superou também a projeção, que era de 3,6% de crescimento.
Porém, se a indústria brilhou, o varejo – que reflete melhor as condições da economia doméstica – não teve o mesmo desempenho. As vendas no varejo cresceram 12,5% no acumulado de 2021, um resultado muito superior aos 3,9% de 2020, ano mais afetado pela pandemia.
No entanto, considerando-se apenas o mês de dezembro, o crescimento frente ao mesmo período de 2020 foi de apenas 1,7%, o que acendeu um sinal de alerta junto às autoridades.
Na semana passada, o banco de investimentos americano Goldman Sachs cortou sua previsão de crescimento da China em 2022 de 4,8% para 4,3%. E o FMI (Fundo Monetário Internacional) mantem uma projeção de crescimento de 4,9% para este ano, abaixo da média histórica chinesa.
Indicadores 1
O Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB (Produto Interno Bruto), cresceu 0,75% em novembro em comparação com outubro, e 4,30% em comparação com novembro do ano passado, considerando-se os dados sem ajuste sazonal.
Indicadores 2
O IGP-10 (Índice Geral de Preços – 10) subiu 1,79% em janeiro, após ter caído 0,14% em dezembro. Com esse resultado, o índice acumula alta de 17,82% em 12 meses. O IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) subiu 2,27% em janeiro após ter caído 0,51% em dezembro. O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) desacelerou para 0,40% em janeiro ante a alta de 1,08% em dezembro.
Relatório Focus
A edição mais recente do Relatório Focus, publicada pelo BC (Banco Central) nesta segunda-feira (17), mostra uma elevação das projeções para a inflação em 2022.
O IPCA projetado está em 5,09%, ante 5,03% da semana anterior e de há quatro semanas, e ainda acima do teto da meta. A inflação prevista para 2023 também subiu, e está em 3,40%, ante 3,36% da semana anterior.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros do Ibovespa iniciam a sessão em baixa. A liquidez permanecerá reduzida devido ao feriado nos Estados Unidos, quando se comemora do dia de Martin Luther King, o que reduz a atividade nos pregões e pode amplificar a volatilidade.
As notícias são negativas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.
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