A economia brasileira tem emitido sinais positivos. Vislumbramos uma retomada bem acima do projetado no começo do ano, com a previsão de expansão do PIB passando de 5%. Tendência reforçada pelo avanço da vacinação e números melhores da pandemia, que criam expectativas mais favoráveis quanto à flexibilização e à recuperação dos vários setores. As contas públicas têm surpreendido, com recorde de arrecadação no primeiro semestre, favorecido por essa expansão maior da economia, mas também pela inflação, com os impostos incidindo sobre preços maiores. Sendo que o crescimento também ajudou a melhorar a relação dívida x PIB. As contas externas, por outro lado, têm contado com o reforço importante do saldo comercial. E a agenda econômica vai avançando no Congresso, ainda que com muitas polêmicas, como em relação à privatização da Eletrobrás e à Reforma Tributária.
Aliás, essas polêmicas puxam o fio das incertezas, que mostram uma situação não tão confortável como os dados citados podem indicar. Para começar, há muitas dúvidas quanto à forma e às condições de aprovação das pautas relevantes da agenda.
O governo, preocupado com possíveis desdobramentos da CPI da Covid, queda de popularidade e apresentação de pedidos de impeachment, se aproxima cada vez mais do centrão, agora até com a mini reforma ministerial. Pode obter mais apoio, mas com um custo pesado via emendas, concessões e jabutis que vão sendo incluídos nos vários projetos. Mesmo com possibilidade de veto, ainda não há muita clareza, por exemplo, quanto às negociações que levaram à aprovação do fundão para as campanhas eleitorais, com votos da base aliada.
A busca por popularidade ainda pode levar à adoção de medidas populistas, que pesem em um possível ajuste das finanças. A “sobra” de receita, com o aumento da arrecadação, pode compensar “bondades” em matéria tributária, além de gastos com um Bolsa Família turbinado, reajustes para o funcionalismo e mais investimentos. Bondades tributárias, vale ressaltar, para alguns segmentos, como através do aumento da faixa de isenção IRPF. Para as empresas, o saldo pode acabar negativo, mesmo com o corte substancial do IR, pela taxação de lucros e dividendos e outras mudanças que, a princípio, determinariam maior justiça tributária, mas, na prática, também têm o objetivo de reforçar o caixa para os novos planos de gastos.
Tudo isso reflete um quadro político dos mais incertos e com possíveis implicações no encaminhamento da agenda econômica.
E, mesmo deixando de lado a política, há entraves no próprio andamento da economia. A inflação preocupa, ainda rodando bem acima do teto da meta, reforçando a necessidade de mais elevações dos juros. Apesar de as commodities terem dado alguma trégua, os preços administrados ainda devem pesar, como energia, diante da crise hídrica, que é outro forte fator de incerteza. Que outras medidas podem ser adotadas na gestão da crise, além do aumento das tarifas pelo uso das termelétricas?
Do lado cenário externo, temos as dificuldades de um controle efetivo da pandemia, com os Bancos Centrais divididos entre a necessidade de mais estímulos e a de cortes antecipados, com ajustes nos juros, para conter a inflação. Mais fatores de instabilidade para o mercado interno.
Todas essas incertezas explicam boa parte da forte volatilidade dos ativos nas últimas semanas. Para o Brasil, em particular, é difícil contar com a definição de uma tendência mais favorável , menos instável, diante do complicado contexto político, que caminha para uma polarização maior, com a proximidade das eleições, e um governo que tenta garantir apoio e popularidade com concessões que podem interferir na agenda econômica.
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