O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgado na noite da quarta-feira (6), trouxe duas surpresas e uma indagação. As surpresas foram o corte de 0,75 por cento na taxa de juros referencial Selic, que caiu para 3 por cento ao ano, e a sinalização de que um corte semelhante pode ocorrer na próxima reunião, marcada para os dias 16 e 17 de junho. Se isso se confirmar, os juros poderão cair para 2,25 por cento ao ano, algo inédito e, até pouco tempo atrás, inimaginável. A indagação é: quais os limites da política monetária “estimulativa”, para usar a linguagem dos comunicados, o famoso copomês?
Vale citar o texto. “Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual. (…) Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia.”
Essa pergunta vem do reconhecimento, pelo Banco Central (BC), de que a a inflação esperada para todo o ano de 2020 caiu para 2 por cento. É um número bem inferior aos 3 por cento indicados na reunião anterior do Copom e muito abaixo dos 4,0 previstos na meta de inflação para este ano.
A renda e o consumo foram afetadas pelas medidas de isolamento social necessárias para a contenção da epidemia do coronavírus.
Faz tempo que as economias mais avançadas vêm provando que as políticas monetária e fiscal não são suficientes para destravar o crescimento se o bom e velho “espírito animal” dos empresários não estiver fora da jaula. O Japão é o melhor exemplo. O Banco do Japão pratica taxas de juros baixas, nulas ou negativas há mais de uma década. O crescimento não explodiu e a inflação não saiu do controle.
O próprio comunicado do Copom reconhece isso. Apesar de dizer que a crise “prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado”, o Comitê reconhece que será difícil de colocar isso em prática se as contas públicas saírem do esquadro. “A trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, serão decisivas para determinar o prolongamento do estímulo (…), mas o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno”, em função da incerteza.
INDICADORES – O número de pedidos de auxílio desemprego na semana encerrada em 2 de maio nos Estados Unidos foi de 3,169 milhões, uma queda de 677 mil pedidos ante os 3,846 milhões da semana passada (número revisado), informou o Departamento do Trabalho americano. A média móvel de quatro semanas caiu para 4,173 milhões de pedidos, baixa de 861 mil pedidos ante os 5,035 milhões da média móvel anterior.
Já as exportações chinesas surpreenderam em abril, e cresceram +3,5 por cento em relação ao mesmo mês de 2019 , informou a Administração Geral das Alfândegas chinesa. O resultado surpreendeu. As expectativas eram de uma queda de -15,7 por cento. No entanto, as importações caíram mais do que o esperado. Em abril, as compras chinesas dos demais países recuaram 14,2 por cento em relação a abril de 2019. Foi uma queda mais ampla que os 11,2 por cento esperados. O superávit comercial da China para abril foi de 45,34 bilhões de dólares, muito superior aos 6,35 bilhões de dólares esperados e o maior desde os 47 bilhões de dólares de dezembro de 2019. O maior aumento nas exportações foi de equipamentos e suprimentos médicos.
O número das exportações chineses mostra uma boa notícia: o mundo continua comprando. Vale ressaltar que a China mostrou um crescimento nas exportações em comparação com o mesmo período do ano passado (2019).
Três notícias: o corte dos juros mais forte do que o esperado, o avanço na reabertura das economias na Europa e o bom resultado das exportações chinesas – justificam um dia de alta para os mercados acionários.
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