A divulgação do CPI (Consumer Price Index) de outubro pelo BLS (Bureau of Labor Statistics) surpreendeu negativamente os investidores. A inflação no varejo se acelerou para 0,9% no mês passado, superando as projeções de 0,6%. Com isso, a inflação para o consumidor nos Estados Unidos avançou para 6,2% em 12 meses.
A reação dessa entidade chamada mercado ficou aquém do seria esperado, mas os preços de alteraram. O rendimento dos títulos referenciais de dez anos do Tesouro americano subiu quase 12 pontos-base para 1,565% ao ano. A taxa dos títulos mais longos, de 30 anos, subiu quase dez pontos-base para 1,918% ao ano. O dólar se apreciou em relação ao euro, que recuou para US$ 1,15. E os índices de ações caíram.
Inflação é um daqueles assuntos tediosos que só passa a ser interessante quando se comporta de maneira inesperada.
Por isso, vale a pena analisarmos mais detalhadamente o que vem ocorrendo com os preços nos Estados Unidos. Além de superar os prognósticos – já recordes – de 5,8%, o resultado levou o CPI acumulado ao maior nível desde os 6,3% de novembro de 1990.
Essa aceleração da inflação registrada há exatos 31 anos não ocorreu por acaso. Dois meses antes, em setembro de 1990, Saddam Hussein, ditador do Iraque, invadiu o vizinho Kuwait de olho em uma saída marítima no Golfo Pérsico e nos oceanos de petróleo do emirado. A invasão provocaria uma forte reação americana, a Guerra do Golfo, que mandou os preços do petróleo para a estratosfera e pressionou os índices de inflação.
Como a guerra foi breve, o pico inflacionário do fim de 1990 foi o famoso ponto fora da curva. Pouco tempo depois, a confluência entre a política monetária acertada de Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e os ganhos de produtividade da economia dos Estados Unidos fizeram os índices de preços voltarem ao bom caminho. E, de quebra, garantiram mais de duas décadas de prosperidade global, até o susto do subprime em 2008.
De volta a 2021. A alta surpreendente dos preços nos Estados Unidos vem sendo causada por fatores específicos. Por exemplo, o fato de os países produtores de petróleo estarem mantendo a produção artificialmente abaixo dos níveis históricos. Isso decorre tanto de restrições à oferta quando do fato de o setor de petróleo como um todo estar sofrendo com os investimentos aquém do necessário ao longo dos últimos cinco anos.
Isso vem se refletindo no comportamento geral da inflação. Ao divulgar o índice, o BLS informou no comunicado oficial que “o aumento mensal dessazonalizado de todos os itens foi amplo, com aumentos em energia, moradia, alimentação, carros e caminhões usados, e veículos novos entre os maiores contribuintes. Os preços da energia subiram 4,8% no mês e a gasolina aumentou 6,1%”. No acumulado em 12 meses, os preços da energia americana subiram subdesenvolvidos 30%. A gasolina ficou 49,6% mais cara e os preços do óleo combustível avançaram assustadores 59,1%.
No entanto, sem contar os preços da energia, a inflação em 12 meses até novembro está em 4,6%. É um patamar superior aos 2% que são a meta inflacionária do Fed, mas bem abaixo do agregado.
Qual a conclusão possível?
Nos Estados Unidos, como no Brasil, a inflação se acelerou por alguns fenômenos localizados, como a alta dos preços dos combustíveis e, no caso específico brasileiro, o avanço dos preços das commodities agrícolas e a seca, que encareceram a comida e o etanol.
Nos Estados Unidos é possível traçar uma estratégia de investimentos pensando que a pressão sobre a inflação vai se arrefecer assim que a situação no mercado de petróleo se normalizar, ainda que em termos relativos.
No Brasil as coisas não são tão simples pelas ineficiências da economia, pelo desajuste fiscal e pela memória inflacionária.
No entanto, lá como cá é possível encarar a inflação como um problema potencialmente temporário, e não como uma distorção permanente.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500 iniciam o dia em alta. O movimento do mercado americano deverá ser mais fraco devido ao feriado da quinta-feira (Dia dos Veteranos), que interrompe as negociações com títulos do Tesouro americano, mas não interfere nos pregões.
As notícias são positivas para a bolsa.
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