O Banco Central (BC) divulgou nesta quinta-feira (25) o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Publicação mais extensa do BC – a edição mais recente tem 94 páginas – e sempre divulgada perto do fim de cada trimestre, o RTI mostra em detalhe as expectativas da autoridade monetária para os principais indicadores da economia. Nesta edição, o BC confirmou o que os leitores do E Eu Com Isso? já haviam percebido. A autoridade monetária demorou para reagir ao aumento de preços. Agora, para impedir que a inflação saia do controle em 2022, o BC terá de endurecer a política monetária de maneira mais intensa. Tivesse agido antes, não seria necessário elevar tanto os juros, colocando em risco o processo de recuperação da economia.
Os números mostram que o BC vai ter de trabalhar duro para ancorar novamente as expectativas. Na manhã desta quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de março. Considerado uma prévia do IPCA, que é usado como gabarito para a meta de inflação, o IPCA-15 subiu 0,93 por cento em março, 0,45 ponto percentual acima os 0,48 por cento de fevereiro. Foi o maior resultado para o mês desde o 1,24 por cento de março de 2015. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 aponta alta de 5,52 por cento. Em março de 2020, a taxa foi de 0,02 por cento.
Boa parte dessa incerteza está expressa no RTI. Para o BC, há alguns riscos importantes no horizonte. Segundo o Relatório, “o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”.
O principal risco segue sendo a Covid-19. Segundo o RTI, “o cenário de evolução da pandemia no Brasil ao longo dos próximos meses envolve incerteza elevada, tanto em termos da trajetória de infecções, quanto em termos da magnitude e duração das restrições públicas à mobilidade.” Por via das dúvidas, o BC já reduziu sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 para 3,6 por cento, ante os 3,8 por cento no Relatório anterior.
Como se não bastasse, o cenário internacional também não ajuda. “Desde o último Relatório de Inflação, o cenário externo apresenta maior volatilidade e a reprecificação de importantes ativos financeiros pode tornar o ambiente mais desafiador para as economias emergentes”, informou o BC.
Estatais
A inflação não é a única fonte de preocupações. Na noite da quarta-feira, o governo anunciou a nomeação de Rodrigo Limp Nascimento, secretário de energia elétrica do Ministério das Minas e Energia (MME) e ex-diretor da Agência Nacional de Energia (Aneel), como o próximo CEO da Eletrobras, em substituição a Wilson Ferreira Júnior, que saiu após a frustração das expectativas quanto à privatização da estatal. Nascimento é executivo do setor e considerado apto para ocupar o cargo, mas sua indicação não seguiu os trâmites. A Eletrobras havia contratado a consultoria Korn & Ferry para escolher o sucessor de Ferreira, mas Nascimento não constava da lista. A decisão já causou uma baixa no Conselho. O conselheiro Mauro Gentile Cunha, renunciou ao cargo.
As baixas também devem ocorrer na Petrobras. O CEO Roberto Castello Branco permanece no cargo até 12 de abril, quando será substituído pelo general da reserva Joaquim Silva e Luna. Com Castello Branco saem quatro diretores: Andrea Almeida, a CFO, André Chiarini, diretor de Comercialização e Logística, Carlos Alberto Oliveira, diretor de Exploração e Produção e Rudimar Lorenzatto, diretor de Desenvolvimento e Produção.
Algo semelhante deve correr também no Banco do Brasil, com a troca de André Brandão por Fausto Ribeiro. A expectativa é que alguns dos vice-presidentes sejam substituídos, e pelo menos dois membros do Conselho devem sair. O presidente do “board”, Hélio Magalhães, ex-presidente do Citi, e José Guimarães Monforte, indicado pelos minoritários e um dos conselheiros mais experientes do País. Tantas mudanças em várias estatais mostram uma piora na governança dessas empresas.
Indicadores
O Índice Nacional de Custo da Construção – M (INCC-M) subiu 2,00 por cento em março, quase o dobro do 1,07 por cento de alta em fevereiro. O índice acumula alta de 4,04 por cento no ano e de 11,95 por cento em 12 meses. Em março de 2020, a variação foi de 0,38 por cento. A alta acumulada em 12 meses até março de 2020 era de 4,34 por cento. O Índice de Confiança da Construção (ICST) caiu 3,2 pontos em março, para 88,8 pontos, menor nível desde os 87,8 pontos de agosto de 2020. Em queda por três meses consecutivos, o índice medido em médias móveis trimestrais caiu 1,7 ponto. As informações são da Fundação Getulio Vargas (FGV).
E Eu Com Isso?
A quinta-feira começa com o mercado em baixa, tanto com relação aos contratos futuros do Ibovespa quanto nos do índice americano S&P 500. A volatilidade deve prosseguir nos próximos dias, até porque não haverá interrupção dos negócios, mesmo com a decretação dos feriados em São Paulo. A B3 manterá os pregões normalmente, só suspendendo os negócios no feriado nacional da Sexta Feira Santa.
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