Começa nesta sexta-feira (23) a safra de balanços das companhias abertas brasileiras referente aos resultados do primeiro trimestre de 2021. Está prevista a divulgação dos resultados de companhias importantes como Usiminas (USIM5) e Hypera Pharma (HYPE3). Quando se observa o comportamento das ações, os três primeiros meses do ano parecem ter sido um período de agitação e perdas. No entanto, os prognósticos para os resultados das empresas são bastante positivos, em especial nos setores ligados à exportação e às commodities.
Há três motivos para isso. O primeiro é a continuidade do cenário financeiro benigno. A liquidez global permanece elevada e os juros seguem baixos, o que favorece e amplifica os movimentos de retomada das atividades por parte das empresas. O segundo é que, ao lado de uma política monetária frouxa, as políticas fiscais também são estimulativas, para usar o jargão do Banco Central (BC). Nos Estados Unidos, o governo aprovou um pacote de incentivos que pretende injetar 2 trilhões de dólares na economia. Uma fatia razoável desse dinheiro será destinada aos americanos de baixa renda, injetando recursos nas veias do consumo. Finalmente, o terceiro motivo é a necessidade de reconstrução e de modernização da infraestrutura nos Estados Unidos, após vários anos de investimentos baixos nesse segmento da economia.
Reunidos, esses motivos justificaram um aumento expressivo e sustentável dos preços das commodities. Consideremos, por exemplo, as cotações do minério de ferro no mercado internacional. Nos últimos dias, a tonelada do minério com um teor de 63,5 por cento de hematita, que é o padrão mundial (e inferior ao minério produzido pela Vale) está sendo negociada a 185,50 dólares. Para comparar, há um ano, no dia 23 de abril de 2020, era possível comprar essa mesma tonelada por 80,90 dólares. Em um ano, a alta foi de 129,3 por cento em dólares. O movimento de valorização ganhou tração a partir de novembro, quando foi confirmada a vitória eleitoral de Joe Biden e quando o cenário para a vacinação começou a ficar mais claro. E essa alta de preços beneficia diretamente mineradoras como a Vale (VALE3) e siderúrgicas como Usiminas (USIM5).
O mesmo raciocínio pode ser aplicado à soja. Há um ano, o bushel da soja (que equivale a 60 libras, ou 27,216 quilos) era negociado em Chicago a 8,49 dólares. Agora, ele vale 14,97 dólares, uma alta de 73,6 por cento. Apesar de a soja em alta elevar os custos para as empresas de proteína animal, seus resultados deverão permanecer fortes. A demanda internacional elevada e o câmbio valorizado facilitam o repasse desse aumento dos custos e preservam as margens de lucro. Além disso, as empresas brasileiras voltadas à exportação desses produtos continuarão sendo beneficiadas pelo aumento da demanda global. Com o crescimento da renda a China está consumindo mais proteína, e os estragos da gripe suína africana que reduziram seu rebanho abrem espaço para os exportadores, especialmente os brasileiros. Assim, as empresas cujos negócios estão conectados ao mercado internacional tiveram bons motivos para lucrar durante os três primeiros meses deste ano, e esse cenário não deve apresentar grandes alterações.
Cenário Internacional
Os indicadores econômicos europeus também mostram uma recuperação. Na madrugada desta sexta-feira, o instituto IHS Markit divulgou a pesquisa dos gerentes de compras (Purchasing Managers Index, PMI) relativa à Zona do Euro. O resultado de abril foi 53,7 pontos, ante 53,2 pontos em março, o indicador mais alto em nove meses. O PMI do setor de serviços de abril subiu para 50,3 ante os 49,6 de março, nível mais elevado em oito meses. E o PMI do setor industrial avançou para um recorde de 63,3, ante 62,5 em março.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros de Ibovespa e os do índice americano S&P 500 iniciam o último pregão da semana em alta. Por aqui, a perspectiva dos bons resultados dos balanços e a sanção do Orçamento animam os investidores. Nos Estados Unidos, o mercado retoma o movimento de alta após o solavanco da véspera. As ações americanas recuaram no fim do pregão com a proposta do presidente Joe Biden de elevar o imposto para as pessoas físicas que auferirem ganhos de capital acima de 1 milhão de dólares por ano. A tributação deve subir dos atuais 20 por cento para 39,8 por cento, e a proposta deverá ser enviada ao Congresso na semana que vem. Mesmo assim, o movimento no início do dia é de recuperação.