Denise Campos de Toledo EECI

A economia deu uma freada, não sem motivos | Denise Campos de Toledo

Os dados do PIB e da indústria que saíram nesta semana mostraram uma perda de ritmo na retomada da atividade. Tanto a queda de 0,1% do Produto Interno Bruto, no segundo trimestre, como a queda de 1,3% da produção industrial em julho, vieram piores que as projeções, que já não eram tão favoráveis assim. 

A economia brasileira continua com grandes dificuldades, ainda que a vacinação e números melhores da pandemia estejam garantindo maior flexibilização das atividades e retomada do setor de serviços. Tivemos até dados melhores que as projeções em outros indicadores, como a recuperação do emprego, também na PNAD, e os resultados das contas públicas. Mas que acabam sendo atenuantes diante dessas dificuldades.

Há uma melhora do emprego, com aumento da massa salarial, só que, paralelamente, o consumidor está tendo o poder de compra corroído pela inflação e pelos juros crescentes. Fator que colabora para perspectivas piores para a indústria, que ainda pode sentir um certo desvio do consumo para serviços que estão sendo reativados. Além disso, o setor industrial continua encarando uma forte pressão de preços, por oferta insuficiente de insumos, aumentos de preços no exterior – inclusive, por questões de logística, relacionadas ao avanço da variante Delta, que já levou ao fechamento de portos na China.

O setor industrial, assim como os consumidores e outros ramos de atividade, sentem também os efeitos da crise hídrica, que afeta a produção e os preços de alimentos, e da crise de energia, com o encarecimento das tarifas e a necessidade de reprogramação de consumo, sem descartar o risco de racionamento e de apagões.

Na pauta das dificuldades de cenário, ainda temos o conturbado ambiente político e o avanço, não necessariamente positivo, das pautas no Congresso. Há uma grande preocupação, por exemplo, com a Reforma do Imposto de Renda, pela forma como ela avançou na Câmara, com as contas ainda sendo fechadas quanto ao aumento da carga para as empresas. O que é um fator que, ao contrário do que sinaliza o governo, pode desestimular em vez de estimular os investimentos e as contratações. 

Quanto à melhoria do balanço das contas públicas, o possível alívio vai sendo substituído por temores em relação ao comportamento futuro, diante do esforço do governo em abrir brechas no orçamento e no teto de gastos para mais despesas em 2022, o que passa por essa reforma do IR, e a postergação do pagamento dos precatórios, que pode resultar em dívidas crescentes a serem gerenciadas em prazo mais longo, mesmo tendo o aval do Congresso e do STF, como se está discutindo. O terreno está sendo preparado para medidas como o Bolsa Família, que tem forte apelo popular, e a percepção é que já não se tem mais tanto compromisso com um ajuste efetivo das finanças. Só se tenta manter as aparências por meio de alguns dribles legais.

Tudo isso tem levado a Bolsa a ter mais dificuldade para acompanhar momentos de reação favorável no exterior, assim como acarretado a manutenção do dólar em patamar que ainda pesa na formação de preços e na inflação e justificado as pressões na curva de juros. O mercado segue em alerta quanto aos riscos do cenário.

Fechamos a semana com um balanço não favorável dos indicadores de atividade, revisão para pior das projeções de crescimento, inflação e juros, o que deve aparecer no próximo relatório Focus, fora uma boa dose de preocupação quanto ao que pode vir após as manifestações convocadas para 7 de setembro. 

Entre as grandes categorias econômicas, em relação a junho, apenas os setores de Bens de Capital e Semiduráveis apresentaram resultados positivos, com altas tímidas de 0,3% e 0,2%, respectivamente.

Pelo lado negativo, a categoria de Bens de Consumo recuou -0,4%, Bens Intermediários recuaram -0,6%, e Bens de Consumo Duráveis, -2,7%, segmentos afetados pelas dificuldades de recomposição de estoques.

De junho para julho, nos subgrupos, as principais influências negativas são advindas de Bebidas (-10,2%) e de Veículos Automotores (-2,8%), com o segundo refletindo as dificuldades de aquisição de semicondutores enfrentadas pelo setor.

Dessa forma, no mês de julho, a indústria segue apontando dificuldades produtivas diante da pressão de custos de matérias primas e de energia elétrica e a falta de componentes eletrônicos para alguns subsetores.

Para os próximos meses, os indicadores antecedentes têm apontado para uma acomodação das expectativas a partir da continuidade das disfunções nas cadeias produtivas e a piora no cenário hídrico. Além disso, com o avanço da variante Delta, levando à continuidade de problemas logísticos nos mercados internacionais, os atrasos nos fretes devem permanecer como um vetor baixista, dificultando a recomposição de estoques, principalmente, para a indústria da transformação.

A Coluna da Denise Campos é publicada toda sexta-feira em nossa Newsletter ‘E Eu Com Isso’.

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Leia mais da Denise Campos de Toledo: Está mais difícil fazer prognósticos otimistas.

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