A insustentável leveza da inflação americana

Mercados com Rafael Bevilacqua
Na quinta-feira (18) foi divulgada a inflação medida pelo Consumer Price Index (CPI) de novembro. Os números vieram surpreendentemente baixos. A inflação acumulada em 12 meses no índice geral desacelerou para 2,7 por cento ante os 3,0 por cento dos 12 meses até outubro. O núcleo da inflação, que não considera os preços mais voláteis dos alimentos e da energia, recuou para 2,6 por cento em 12 meses, ante os 3,0 por cento até outubro.

Essa é uma mudança aparentemente bem-vinda para os americanos, pressionados pelo custo de vida persistentemente alto. No entanto, economistas alertaram que essa desaceleração provavelmente foi resultado de distorções nos dados econômicos relacionadas à paralisação (“shutdown”) de 43 dias do governo americano.

O relatório do CPI de novembro é o mais recente de uma longa série de dados econômicos governamentais que estão sendo divulgados com atraso. E ele tem problemas devido à paralisação que se estendeu de 1º de outubro a 12 de novembro.

O índice de inflação de outubro não foi calculado, já que a paralisação do governo prejudicou a capacidade das agências de processar dados econômicos. E a coleta de dados para o cálculo do índice de novembro começou tarde. Como os dados de outubro estavam faltando, as variações mensais da inflação não puderam ser calculadas para a maioria das categorias que compõem o índice.

Os preços ao consumidor subiram 0,2 por cento de setembro a novembro, resultando em uma taxa média de 0,1 por cento. Em setembro, os preços haviam subido 0,3 por cento em termos mensais. Os economistas esperavam uma alta de 0,3 por cento em novembro, mantendo a inflação em 12 meses inalterada em 3 por cento. O núcleo do CPI também subiu 0,2 por cento de setembro a novembro, apenas 0,1 por cento por mês.

Como os dados do CPI são revisados no mês seguinte à sua publicação, a expectativa é de uma alteração significativa na primeira divulgação de 2026.

A tendência de queda da inflação deu aos investidores alguma esperança de que o Federal Reserve reduza as taxas de juros em 2026. Embora as expectativas de um corte de juros em janeiro permaneçam baixas, os investidores estão precificando uma probabilidade de 46,5 por cento de redução em março, de acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group. Esse número subiu em relação aos cerca de 41,4 por cento da quinta-feira.


E Eu Com Isso?

Os contratos futuros dos principais índices americanos estão em alta no pré-mercado, devido a expectativas positivas com as empresas de inteligência artificial. No entanto, os números de inflação podem trazer volatilidade ao mercado, especialmente devido à redução do volume nos últimos pregões do ano.

As notícias são positivas para a Blsa em um cenário de volatilidade



Copasa (CSMG3): Tese da privatização, como o mercado acompanha a mudança de controle


A privatização da Copasa (CSMG3) tem sido acompanhada de perto pelo mercado de renda variável ao longo dos últimos anos, especialmente por investidores atentos ao setor de saneamento e às oportunidades geradas por processos de desestatização.

A companhia é vista como um ativo defensivo, com geração previsível de caixa, forte posição regional em Minas Gerais, com distribuição recorrente de dividendos, mas também marcada por questões ligadas às empresas ao controle estatal.

Na votação ocorrida ontem na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o projeto de lei que autoriza a privatização da Copasa foi aprovado em segundo turno com 53 votos a favor e 19 contra, superando o quórum qualificado exigido para esse tipo de matéria.

Com a aprovação, o projeto segue para sanção do governador, abrindo caminho para que a operação de desestatização avance formalmente nos próximos meses.

Essa confirmação legislativa foi recebida com atenção pelo mercado financeiro, que vinha precificando o avanço atrelado à privatização da Copasa e passa agora a ajustar expectativas sobre o cronograma de desinvestimento e as potenciais implicações sobre o valuation das ações.

Desde que o tema da privatização passou a ganhar tração no debate político mineiro, as ações da Copasa passaram a refletir, de forma mais intensa, o risco e o prêmio associados ao cenário regulatório e institucional. Em momentos de avanço legislativo, o papel tende a reagir positivamente, impulsionado pela expectativa de melhoria na governança, maior eficiência operacional e racionalização de custos.

Para investidores de renda variável, a aprovação da autorização para a privatização representa um divisor de águas. O mercado interpreta o movimento como uma redução relevante do risco político, fator que por muitos anos contribuiu para o desconto das ações em relação a pares privados do setor de saneamento.

Outro ponto observado pelos investidores é o potencial de destravamento de valor no médio e longo prazo. A privatização abre espaço para investimentos mais robustos em expansão de rede, tratamento de esgoto e modernização de ativos, o que pode elevar a base de receitas e melhorar margens operacionais.

Além disso, há expectativa de maior disciplina financeira, redução de interferências políticas e políticas de dividendos mais alinhadas às práticas do setor privado, fatores que costumam ser bem precificados pelo mercado.

Nesse contexto, o comportamento das ações tende a continuar andando com os avanços regulatórios e sinalizações do governo sobre o cronograma e o formato da operação.


E Eu Com Isso?

As expectativas de desestatização, combinadas com avanços regulatórios, já impulsionaram uma valorização expressiva dos papéis em 2025, com alta de cerca de 118 por cento no acumulado do ano, refletindo o prêmio do mercado pela possibilidade de privatização.

A privatização da Copasa transformou a companhia em um ativo estratégico para o mercado financeiro.

Mais do que os resultados trimestrais, o que guia a precificação é a expectativa de mudança estrutural na governança e no modelo de gestão, bem como o potencial de reprecificação da ação caso o processo avance com clareza e eficiência.

Para investidores que acompanham o caso ao longo dos anos, o desfecho do processo poderá representar tanto uma oportunidade relevante de valorização quanto um teste importante de execução no mercado de saneamento brasileiro.



Guararapes (GUAR3) avança na simplificação do portfólio e reforça foco na Riachuelo

A Guararapes (GUAR3) teve um dos movimentos estratégicos mais relevantes do ano ao anunciar a venda do shopping Midway Mall, em Natal, por cerca de 1,6 bilhão de reais, operação que foi imediatamente bem recebida pelo mercado e impulsionou as ações da companhia. A transação marca um passo importante na reorganização do portfólio do grupo, reduzindo a exposição a ativos imobiliários não essenciais e reforçando a mensagem de foco nos negócios centrais: varejo de moda, por meio da Riachuelo, e serviços financeiros. A reação positiva do mercado reflete não apenas o valor da venda, mas principalmente a clareza estratégica trazida pela decisão.

Um dos pontos centrais do anúncio foi a destinação relevante dos recursos para os acionistas, com a distribuição de 1,49 bilhão de reais em dividendos. O montante surpreende pelo tamanho e reforça a forte geração de caixa da companhia, além de sinalizar disciplina na alocação de capital. Mesmo após a operação, a Guararapes permanece com estrutura de capital sólida, com alavancagem projetada em torno de 0,6x para 2026, o que preserva flexibilidade financeira para investimentos, crescimento orgânico e eventuais movimentos estratégicos no futuro.

Do ponto de vista operacional, a venda do shopping também carrega um racional importante de eficiência. Ao sair de um ativo intensivo em capital e com dinâmica distinta do core business, a companhia simplifica sua estrutura, reduz complexidade de gestão e libera recursos para áreas com maior potencial de retorno sobre o capital investido. Esse movimento dialoga diretamente com a estratégia de fortalecimento da Riachuelo como plataforma integrada de varejo e serviços financeiros, combinando marca forte e produção verticalizada.

 
E Eu Com Isso?
 
Além disso, a reação do mercado foi amplificada pelo forte aumento de liquidez do papel no pregão seguinte ao anúncio, indicando renovado interesse dos investidores na tese da companhia. O volume negociado foi bem superior ao observado nos dias anteriores, sinalizando que a operação funcionou como um catalisador para reprecificação do ativo. Esse comportamento sugere que parte do desconto histórico do papel estava associada justamente à percepção de portfólio menos focado e à alocação de capital em ativos considerados não estratégicos.

Embora o efeito positivo no preço da ação no curto prazo seja evidente, o principal ganho está na melhora da qualidade da tese no médio e longo prazo, com um portfólio mais simples e mais focado, maior previsibilidade de retornos e alinhamento mais direto entre estratégia operacional e geração de valor para o acionista.



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