A incógnita do emprego americano

Mercados com Rafael Bevilacqua
Boa parte da movimentação dos pregões na terça-feira (16) deveu-se às interpretações dos indicadores econômicos americanos, em especial os números do emprego. Esta quarta-feira (17) é um dia sem números relevantes, por isso a necessidade de analisar as informações que estão disponíveis. E os números oferecem mais confusão do que clareza.

Observando apenas um indicador, o nível de emprego não agrícola (“non farm payroll”), o emprego nos EUA se recuperou mais do que o esperado em novembro. No mês passado, o número de vagas não agrícolas aumentou em 64 mil. Essa recuperação seguiu-se a uma queda abrupta.

Em outubro, os cortes nos gastos governamentais haviam provocado a maior queda no “non farm payroll” desde dezembro de 2020, com a redução de 104 mil vagas. Naquele momento, essa queda foi associada a uma diminuição de 162 mil empregos no governo federal, a maior desde junho de 2010.

Então o mercado de trabalho está aquecido? Calma. Os dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) mostraram que a taxa de desemprego subiu para em 4,6 por cento no mês passado, ante uma taxa de 4,4 por cento em outubro, e acima da mediana das expectativas, que era de 4,5 por cento.

O desemprego chegou ao maior nível em mais de quatro anos. Porém, o BLS informou que alterou a metodologia de cálculo do desemprego após a paralisação (“shutdown”) do governo por 43 dias ter impedido a coleta de dados das famílias. Ou seja: não é possível simplesmente comparar o dado de novembro com a série histórica anterior.

O que fazer? Nesse caso, é preciso resolver a diferença buscando fontes independentes que não alteraram suas metodologias de cálculo. No caso, os levantamentos regionais e do setor privado. É consenso que as empresas americanas estão contratando menos devido ao choque causado pelas amplas tarifas de importação de Trump. Elas elevaram os preços de muitos produtos, resultando em consumidores, principalmente famílias de baixa e média renda, mais seletivos em suas compras.

Essa tendência foi reforçada por um relatório separado do Departamento de Comércio, que mostrou que as vendas no varejo permaneceram inalteradas em outubro, após um aumento de 0,1 por cento em setembro.

A conclusão é que há tanto indicadores que mostram um aquecimento do mercado de trabalho no setor privado, quanto números que mostram um arrefecimento do setor público. Essa incerteza era tudo o que o mercado não queria. Por isso, os investidores iniciam 2026 com a mesma incerteza que dominou as análises nas últimas semanas.


E Eu Com Isso?

Os contratos futuros dos principais índices americanos estão em alta no pré-mercado. No entanto, as cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil negociadas em Wall Street iniciam a quarta-feira com mais uma queda, com os investidores preocupados com as notícias políticas.


Itaúsa (ITSA4) anuncia bonificação em ações de 2,5 bilhões de reais e reforça solidez financeira


A Itaúsa (ITSA4) anunciou por meio de fato relevante, a decisão de aumentar seu capital social via bonificação em ações, uma prática comum entre companhias consolidadas. A iniciativa tem como objetivo fortalecer a estrutura de capital da holding, ao mesmo tempo em que distribui valor aos acionistas sem exigir qualquer desembolso financeiro adicional.

A operação foi aprovada pelo Conselho de Administração e será realizada por meio da capitalização de reservas no valor de 2,5 bilhões de reais, elevando o capital social da companhia para aproximadamente 83,7 bilhões de reais. Essa movimentação representa uma reorganização contábil, na qual parte das reservas acumuladas passa a compor o capital efetivamente integralizado da empresa.

Como consequência dessa capitalização, a Itaúsa emitirá mais de 219 milhões de novas ações escriturais, entre ações ordinárias e preferenciais, que serão distribuídas gratuitamente aos acionistas na forma de bonificação. A proporção definida é de duas novas ações para cada cem ações da mesma espécie já detidas, considerando como data de corte o dia 18 de dezembro de 2025.

As novas ações serão creditadas a partir de 23 de dezembro de 2025 e passarão a ter direito a dividendos e juros sobre capital próprio declarados a partir dessa data, assegurando igualdade de direitos econômicos em relação aos papéis já existentes.

No caso de frações de ações, os investidores poderão ajustar suas posições entre 26 de dezembro de 2025 e 26 de janeiro de 2026; eventuais sobras serão posteriormente agrupadas e vendidas, com os valores líquidos distribuídos proporcionalmente aos titulares. Do ponto de vista fiscal, o custo atribuído às ações bonificadas foi fixado em 11,37 reais por ação, informação relevante para o correto cálculo do custo médio e da tributação em operações futuras.

Além da operação de bonificação, a Itaúsa se destaca por seus indicadores financeiros, que reforçam sua atratividade para investidores de longo prazo. O Dividend Yield da holding tem se mantido em torno de 8 por cento ao ano, excluindo o recente pagamento extraordinário, sustentado pela política consistente de distribuição de proventos e pelo desempenho de sua principal investida, o Itaú Unibanco.

Em termos de valuation, o índice Preço/Lucro (P/L) da companhia permanece próximo de 8 vezes, sugerindo que as ações podem estar negociadas a múltiplos atrativos em relação aos lucros gerados. Já o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), situado entre 17 por cento e 18 por cento ao ano, evidencia a eficiência da holding na alocação de capital e a qualidade de seus resultados.


E Eu Com Isso?

Em conjunto, esses fatores reforçam a percepção de solidez, disciplina financeira e compromisso com a criação de valor sustentável aos acionistas.

Em 2025, as ações da Itaúsa (ITSA4) apresentaram uma valorização acumulada próxima de 57 por cento no ano, desempenho que supera de forma significativa o principal índice da bolsa brasileira. Esse movimento reflete a combinação de resultados financeiros consistentes, fortalecimento da confiança dos investidores e o bom desempenho de suas principais investidas, especialmente o Itaú Unibanco.

Além disso, a manutenção de uma política sólida de distribuição de proventos e anúncios relevantes, como a bonificação em ações, contribuíram para ampliar o interesse do mercado e sustentar a forte alta dos papéis ao longo do período.



Carrefour acelera reorganização e eleva a competição no varejo brasileiro

O Carrefour Brasil iniciou um dos seus ciclos de reestruturação mais profundos dos últimos anos, com mudanças expressivas na cúpula executiva, revisão de estruturas, simplificação administrativa e reforço da presença de executivos franceses no comando.

A chegada de Julien Munch como deputy-CEO, espécie de vice-CEO, e a saída de lideranças históricas das áreas de varejo, imobiliário e transformação marcam um movimento de reorganização estratégica que busca recuperar eficiência operacional, destravar produtividade e reposicionar o grupo em um mercado cada vez mais competitivo.

A decisão de substituir três executivos brasileiros por uma figura diretamente da matriz, além de eliminar cargos como chief transformation officer, evidencia o desejo do grupo por alinhamento direto com o modelo europeu, corte de sobreposições e maior disciplina de custos.

Ao mesmo tempo, o Carrefour vem redesenhando por completo sua operação no país, priorizando o Atacadão como pilar de crescimento e redefinindo a estrutura administrativa das demais unidades de negócio.

A mudança da sede de Barueri para novos escritórios em São Paulo, a consolidação das áreas de finanças e recursos humanos sob novas lideranças, e a revisão de estruturas que vinham sendo pouco integradas após anos de aquisições mostram que a empresa está disposta a enfrentar de frente o diagnóstico interno de baixa produtividade e custo elevado. Esses ajustes também dialogam com um modelo mais enxuto, que reduz o comitê executivo de 11 para 8 membros e aproxima a governança local da matriz na França.

No campo operacional, o grupo delineou prioridades claras para 2025–2026: estabilizar o parque de hipermercados em torno de 100 unidades, acelerar conversões para o modelo Atacadão, fortalecer a marca própria e ampliar iniciativas de capitalização, como a venda de ativos não estratégicos. Além disso, a empresa reconhece que projetos como 3x sem juros perderam tração em um ambiente de juros elevados, levando o grupo a reavaliar mecanismos de estímulo à demanda. Esse conjunto de iniciativas aponta para um Carrefour mais focado, pragmático e disciplinado em relação à alocação de capital.

 
E Eu Com Isso?
 
Essa reorganização tem implicações diretas no ambiente competitivo, especialmente no segmento de atacarejo, onde o Carrefour compete frontalmente com o Assaí (ASAI3). A priorização absoluta do Atacadão, combinada com cortes estruturais e maior centralização decisória, tende a aumentar a eficiência comercial e acelerar a abertura de lojas em regiões-chave, reduzindo brechas competitivas.

Embora a transição de comando possa gerar ruído no curto prazo, o reforço de executivos de perfil operacional — como Munch, conhecido pelo trabalho em redes de hipermercados na Europa — sugere maior foco em execução, precificação, operação de lojas e compra, pontos que são decisivos em mercados de margem apertada. Além disso, a venda de ativos e a reorganização administrativa liberam recursos que podem ser direcionados à expansão e modernização do Atacadão.

Para o Assaí, esse movimento representa um ambiente competitivo mais acirrado em 2025–2026. O Carrefour deixa clara a intenção de reencontrar eficiência e ampliar capilaridade, especialmente em praças onde ambas as redes disputam consumidor e terreno. O Assaí ainda mantém vantagens estruturais relevantes — como modelo puro de atacarejo, histórico sólido de execução e forte disciplina de custos —, mas o avanço de um Atacadão mais enxuto, reorganizado e com foco explícito em escala pode pressionar margens, acelerar guerras de preço regionais e exigir ainda mais rigor nas decisões de abertura de lojas.



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