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Está difícil encontrar aquele vice

*Em 2014 o Brasil sediava a Copa do Mundo. E a esperança do sexto título acabou de forma dramática naquela partida com a Alemanha em Belo Horizonte. Não precisa nem relembrar o placar, certo? O país também se preparava para mais uma eleição presidencial. Dilma Rousseff já sabia, desde 2013, quem seria seu vice, o então peemedebista Michel Temer, que já morava no Palácio do Jaburu desde 2010. Os outros principais concorrentes já haviam definido suas chapas bem antes das convenções partidárias: Marina Silva foi confirmada vice de Eduardo Campos em 14 de abril.e o tucano Aécio Neves anunciou Aloysio Nunes em 30 de junho.

Quanta diferença…

Quatro anos, um impeachment e um vice tomando o lugar do titular depois – e quanta diferença. O prazo para os partidos registrarem as candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) termina no dia 15 de agosto. As últimas convenções estão programadas para o próximo domingo, 5 de agosto. E os presidenciáveis com maior chance de chegar ao Planalto ainda não definiram seus vices. É um dos quadros mais inesperados desta eleição, já tão repleta de idas e voltas que deixaram o mercado financeiro em compasso de espera – e um tanto quanto nervoso.

E Lula?

O nome mais citado nas pesquisas eleitorais, Lula, dificilmente estará na urna eletrônica em outubro. O PT, controlado pelo ex-presidente de dentro de sua sala especial na PF de Curitiba, não tem nem candidato, quanto mais um vice. O partido sonha com uma aliança com o PSB e/ou com o PCdoB, de Manuela d’Ávila. E estica a corda até o último momento, numa estratégia que é boa para Lula e não para o seu partido. Ciro Gomes, do PDT, também tenta aliança com o PSB e o PCdoB, depois de conversas com o chamado Centrão que não deram em nada. E acaba de receber um não do ex-prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB, convidado para ser vice na chapa.

Centrão e direita em dúvidas

No outro campo político, entre o centro e a direita, a situação também não está tão clara. O ex-governador paulista Geraldo Alckmin até surpreendeu, ao reunir em torno de sua candidatura o Centrão, com partidos médios que descobriram ter força suficiente para pautar o Congresso e, por tabela, o próprio governo. Ponto para o conhecido “picolé de chuchu”, mas Alckmin já recebeu vários nãos a sondagens para a vice-presidência. Entre eles, do ex-deputado federal Aldo Rebelo (Solidariedade-SP) e da senadora Ana Amélia (PP-RS). Isso depois que o tucano já havia recebido uma primeira negativa, do empresário Josué Gomes, filho de José Alencar, o vice de Lula em dois mandatos. Marina Silva, da Rede, também continua sem vice. Já levou um não do ator Marcos Palmeira, ferrenho defensor da ecologia.

A decepção de Bolsonaro

Mas quem teve mais decepções foi Jair Bolsonaro, do  PSL, que aparece na frente em pesquisas sem Lula. Já disseram não ao capitão reformado do Exército o senador Magno Malta e os generais Augusto Heleno e Antonio Mourão. A advogada Janaína Paschoal, aquela do impeachment de Dilma, deixou claro que discorda de Bolsonaro em vários pontos do programa. O astronauta Marcos Pontes e o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança também foram sondados, sem definição até agora.

Teremos novos vices decorativos?

Os analistas políticos quebram a cabeça para entender por que, desta vez, está tão árdua a busca dos candidatos por um vice. A resposta pode estar justamente na aparente interrupção da disputa PT-PSDB, que marcou todas as eleições anteriores desde 1994. Isso se manifesta pelos maus resultados de Alckmin nas pesquisas, de um lado, e pela provável impossibilidade de Lula representar o PT de outro.

Os vices às vezes reclamam de ser meramente decorativos, como fez Temer antes do impeachment de Dilma, mas podem cumprir papéis importantes na democracia: ajudar a costurar alianças, agregar tempo na propaganda eleitoral e atrair votos de fatias diferentes do eleitorado.

E o retrospecto histórico mostra que ser vice neste país pode ser um bom negócio. Que o digam Jango, José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer, ressalvadas as circunstâncias históricas correspondentes.

*Por Marcos de Guide, jornalista político da Band

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