A economia brasileira segue em crescimento, com indicadores positivos, como os recordes de arrecadação, a recuperação do emprego formal, os bons resultados das empresas, a retomada firme de vários ramos de atividade, o que tende a ser reforçado pelo avanço da vacinação e a maior flexibilização das atividades. Apesar desse quadro favorável, o clima é de muitas incertezas em vários aspectos. Temos a inflação persistentemente alta, superando as projeções; dúvidas do lado fiscal, especialmente por iniciativas que mostram a preocupação do governo em abrir espaço no orçamento de 2022, para mais gastos; além da crise hídrica e da crise de energia. São temas dos mais relevantes que, talvez, não estejam sendo tratados com a devida atenção ou de uma forma que traga menos desconfiança.
Em relação à inflação, temos a atuação do Banco Central, até com aceleração da alta dos juros, na tentativa de trazê-la para um patamar compatível com a meta. Isso colabora para gerar perspectivas mais favoráveis. Mas, por outro lado, além de fatores inevitáveis, como o aumento dos preços de alimentos pelas condições climáticas ou das commodities, vemos o governo colaborando para gerar incertezas, até do lado fiscal. Isso, é claro, sem contar os sucessivos embates políticos, sustentando o dólar em patamar mais alto, o que amplia as pressões de preços. E há mais: temos o ministro da Economia, Paulo Guedes, aparentemente, menosprezando o problema e, até mesmo, as consequências da inflação alta para a população, como ao dizer que a inflação entre 7% e 8% está nas regras do jogo ou ao questionar que mal tem a energia subir. Além da falta de empatia pelo impacto que a situação tem sobre a população, com o poder de compra mais comprometido, num cenário de aumento da pobreza e desemprego elevado, o ministro ainda parece não estar preocupado, como deveria, com os impactos que a inflação e os juros mais altos podem ter sobre o andamento da economia, sem esquecer da gravidade da crise de energia, que ainda pode provocar mais inflação, além da possibilidade de racionamento e de apagões que também pesem sobre a atividade.
Sobre a questão fiscal, tivemos algum alívio nesta semana, o que permitiu uma trégua no mau humor do mercado local. A votação da polêmica proposta da Reforma do IR foi adiada, e alternativas que não deixem tão evidentes as manobras para driblar o teto de gastos estão sendo buscadas para a PEC dos Precatórios. A proposta orçamentária deve ser apresentada contemplando o pagamento integral das dívidas e, se houver algum entendimento nas discussões com o Congresso e com o STF, poderá ser alterada depois.
O fato é que o noticiário do dia a dia da economia, com todos esses ruídos, além dos sons mais estridentes da política, já colaboram para ocasionar uma revisão para baixo das perspectivas de expansão da economia.
Do lado fiscal, ainda se pode esperar algum encaminhamento mais favorável, até pela repercussão muito negativa de várias pautas. Já na política temos todo um cenário de embates institucionais, que não tem dado muito espaço para uma visão mais otimista, especialmente com a proximidade das eleições. E proximidade que, como sabemos, ainda pode interferir bastante na área econômica. Por tudo isso, o que se pode antecipar é mais volatilidade do mercado, pressão sobre os juros e revisão dos indicadores de inflação e de crescimento. Tomara que venham boas surpresas, contrariando esses prognósticos.
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