Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, afirmou na quarta-feira (14) estar “pronto para intervir” se a inflação sair de controle.
Mesmo assim, Powell serviu mais uma dose dos estímulos de que o mercado depende para continuar batendo recordes.
No primeiro dia do seu depoimento semestral diante do Congresso, ele disse acreditar que a alta dos preços irá amainar no final do ano.
“A inflação aumentou acentuadamente e deverá permanecer elevada nos próximos meses, antes de diminuir”, afirmou Powell à Comissão de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados.
Nesta quinta-feira (15), ele vai depor diante da Comissão de Assuntos Bancários do Senado americano.
Powell disse também que o Fed pode mudar a política monetária “se detectarmos sinais de que o rumo da inflação, ou as expectativas de inflação de longo prazo, estiverem persistentemente maiores que os níveis consistentes com a meta”.
Na linguagem neutra e cifrada dos banqueiros centrais, ele foi claro em dizer que, se houver mudança na política, não será para já.
Os comentários de Powell seguem números desconfortáveis para a inflação americana. Na quarta-feira (14), o Bureau of Labor Statistics divulgou que a inflação no atacado (Producer Price Index, PPI) de junho foi de 1,0%, ante 0,8% em maio e 0,6% em abril.
Com isso, a inflação ao produtor acumulada em 12 meses até junho está em 7,3%, ante 6,6% em maio. É o maior percentual para o PPI desde o início da série histórica, que começou em 2010.
Na véspera, o BLS (Bureau of Labor Statistics) havia divulgado a inflação ao consumidor. O CPI (Consumer Price Index) de junho registrou um aumento de 0,9% nos preços, elevando a inflação acumulada em 12 meses para 5,4%.
Ambos os indicadores justificam temores de que a economia americana está se recuperando depressa demais do impacto negativo da pandemia. E uma inflação em alta pode elevar a pressão para que o Fed eleve os juros, atualmente a zero, e reduza a compra mensal de US$ 120 bilhões em ativos.
Porém, os comentários de Powell indicam que nada deve ocorrer até o fim do ano, tudo o que os investidores queriam ouvir.
Ele disse que o aumento da inflação é temporário e que há uma distorção na base de comparação.
Os preços caíram muito no segundo trimestre de 2020 e isso infla os resultados. Outra justificativa é a recuperação assimétrica da economia.
“O aumento da demanda provocou gargalos na produção, o que gerou aumentos rápidos dos preços de alguns bens e serviços, que devem ser parcialmente revertidos com a eliminação desses gargalos.”
Em sua reunião de junho, o Fomc (Federal Open Market Committee), equivalente americano do Copom, começou a discutir a hora e as condições de retirada dos estímulos, mas Powell indicou que nada haveria de mudar no curto prazo.
Sua principal preocupação não é com a inflação, mas com o emprego, que ainda não retornou aos níveis anteriores à pandemia.
China
O governo chinês informou que o PIB (Produto Interno Bruto) do país cresceu 7,9% no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2020.
O resultado foi levemente abaixo das estimativas, que eram de um crescimento de 8,1%. Mesmo assim, tanto as vendas no varejo quanto a produção industrial cresceram mais rápido do que o previsto.
Em relação aos três primeiros meses deste ano, o PIB aumentou 1,3%, acima do 0,6% de crescimento registrado no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses de 2020.
Na comparação anual, o primeiro trimestre deste ano havia crescido 18,3% devido à forte queda na atividade econômica provocada pela pandemia.
“A economia da China manteve uma recuperação estável”, disse o National Bureau of Statistics, equivalente ao IBGE brasileiro, em um comunicado. Mas a agência acrescentou que ainda há preocupações sobre a propagação global da pandemia e sobre a recuperação “assimétrica” internamente.
As vendas no varejo aumentaram 12,1% em junho em relação ao ano anterior, acima dos 11% esperados.
A categoria de crescimento mais rápido foi a de bebidas, com alta de 29,1% ano-a-ano. A produção industrial cresceu 8,3%, acima da estimativa de 7,8%.
Apesar de positivos, os resultados ficaram além do esperado. Talvez essa seja a causa de a china ter, preventivamente, reduzido os depósitos compulsórios na sexta-feira (09), liberando um trilhão de yuanes, equivalente a US$ 145 bilhões, na economia.
Tanto os comentários de Powell quanto a mudança no compulsório chinês indicam que as maiores economias do mundo estão dispostas a manter os programas de estímulo ao crescimento, apesar da ameaça de inflação global.
Essa manutenção garante o otimismo dos investidores e pode sustentar novos recordes nos mercados acionários.
E Eu Com Isso?
Apesar das declarações de Powell, o mercado futuro americano está iniciando os negócios em queda devido ao crescimento abaixo do esperado na China.
Além disso, a persistente tolerância do Fed com a inflação vem provocando preocupações devido à sustentabilidade dessa política no longo prazo.
Por aqui, além do mercado externo em queda, a incerteza política pressiona para baixo os contratos futuros de Ibovespa.
As notícias são negativas para a bolsa.
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