O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu exoneração do cargo nesta quarta-feira (23), após muita pressão pela sua demissão – vinda do Congresso, outras alas do governo e sociedade civil.
O agora ex-ministro já balançava no cargo desde investigações da Polícia Federal em endereços ligados a seu nome e a abertura de dois inquéritos criminais no STF (Supremo Tribunal Federal).
O primeiro tratando da suspeita de facilitação à exportação ilegal de madeira, aberto pelo ministro Alexandre de Moraes, e o segundo, aberto pela ministra Cármen Lúcia, decorrente de uma notícia-crime apresentada pelo delegado da PF, Alexandre Saraiva, acusando Salles de obstrução de justiça em apurações envolvendo apreensão de madeira.
Nomeado para o ministério do Meio Ambiente desde o início do governo Bolsonaro, o chefe da pasta colecionou uma série de polêmicas: flexibilização da legislação ambiental; crise de incêndios no Pantanal; as falas mais fortes na polêmica reunião ministerial e as investigações envolvendo seu nome.
Nos bastidores, interlocutores do governo sabiam que Salles estava cansado, mas não esperavam uma demissão precoce – afinal, ele era considerado um dos nomes de confiança de Bolsonaro e não haveria intenção de demiti-lo.
Outra narrativa que circula nos bastidores de Brasília é de que sua demissão acabou sendo antecipada para desviar o foco da nova polêmica acerca de irregularidades e superfaturamento no processo de aquisição de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Barath Biotech.
A polêmica surgiu após o deputado Luís Miranda (DEM-DF), da base aliada do governo, vir a público escancarar o esquema de corrupção e afirmar que o governo foi avisado previamente.
Seu irmão, Luíz Ricardo Fernandes Miranda, é servidor do ministério da Saúde e teria descoberto irregularidades.
A aquisição é, atualmente, alvo de investigação pelo Ministério Público Federal e pela CPI da Covid, mas a pasta da Saúde nega que tenha firmado qualquer contrato de compra do imunizante indiano.
No lugar do ex-ministro, assume o secretário da Amazônia e Serviços Ambientais do MMA (Ministério do Meio Ambiente), Joaquim Álvaro Pereira Leite.
O novo ministro foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira de 1996 a 2019 e tem excelente trânsito no agronegócio brasileiro.
E Eu Com Isso?
A saída do ministro tem peso simbólico, mas não deixa de ser relevante.
Salles era frequentemente visto com Bolsonaro e representava um dos pilares do eleitorado mais fiel no governo.
Ao mesmo tempo, contudo, seu substituto não deve promover mudanças radicais na atuação do MMA – parte do Congresso quer ver uma política ambiental diferente, mas a bancada ruralista elogiou o nome escolhido.
O cenário fervoroso em Brasília, nesta quarta, gerou algum ruído nos mercados e investidores ficaram mais cautelosos durante as negociações do pregão.
O grande impacto para os mercados deve ser a volta da CPI ao radar de investidores, com uma nova linha de investigação sendo aberta.
Fique atento aos novos desdobramentos.
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