A semana teve novas decisões sobre política de juros no Brasil e nos Estados Unidos, com as reuniões do FOMC e do Copom. Nos dois casos tivemos a confirmação de que a inflação está avançando, além do previsto, e pode exigir maior esforço para retornar para um patamar mais compatível com as metas.
Independentemente dos fatores, o fato é que estamos vendo sucessivas justificativas para a inflação mais pressionada, que mostram um movimento não tão temporário como se esperava.
Nos Estados Unidos, com foco também no crescimento e no mercado de trabalho, o FED tenta adiar tanto o corte de estímulos, via recompra de títulos, que está mantido; assim como a elevação dos juros, já admitindo que devem estar mais altos em 2023.
Dados contraditórios de atividade e emprego ainda recomendam maior cautela, embora se conte com uma forte recuperação da economia americana neste ano, que pode ficar ao redor de 7%.
No Brasil os ajustes já estão em andamento e podem se intensificar dependendo da evolução das projeções de inflação que, por enquanto, não param de piorar. A Selic subiu mais 0,75 ponto, para 4,25% ao ano e o Copom retirou do comunicado a normalização
parcial dos juros, que podem caminhar para o nível neutro.
Em princípio está sinalizado mais um aumento de 0,75 na reunião de agosto, mas, como já observado, poderá ocorrer uma retirada mais tempestiva dos estímulos, ou seja, os juros podem subir com mais rapidez. Há possibilidade de ajuste de um ponto na próxima reunião e para o fechamento do ano já se trabalha com a taxa básica em 6,25 ou 6,5%.
O BC ainda conta com uma queda dos preços de commodities e os juros mais altos devem ajudar a conter o câmbio, que pode cair para um patamar abaixo dos R$ 5,00, diante da maior atratividade para os investidores. Fatores que ajudariam a controlar a inflação.
Porém, o crescimento econômico pode agir no sentido inverso, dando margem para a recomposição de preços, fora a crise hídrica e o uso das termelétricas, que ainda vão encarecer mais as tarifas de energia.
O BC, no comunicado, também ressaltou as incertezas do lado fiscal e no encaminhamento das reformas. Sendo que, nesse sentido, temos tido muitos ruídos. Prorrogação do auxílio
emergencial, reformulação do Bolsa Família, que pode subir para 300 reais, programa de ajuda para os órfãos da Covid, reajuste para os servidores.
Enfim, pandemia com interesses na popularidade, visando as eleições, podem complicar a gestão das finanças, mesmo com o bom aumento do teto de gastos que o governo poderá dispor em 2022, em função da inflação de referência bem mais alta. Já as reformas… Sabemos que, se saírem, vão ficar dentro dos limites da política, também já com mira nas eleições.
O que temos, portanto, é a perspectiva de mais aperto monetário no âmbito doméstico, que pode ocorrer também no exterior, o que tiraria um pouco da atratividade desse movimento aqui no Brasil.
Mais do que os juros básicos, os preços dos ativos devem variar muito em função das perspectivas de controle da pandemia, retomada mais firme do crescimento, com correção de distorções, como o desequilíbrio fiscal e o desemprego. Sem esquecer do cenário político, que parece caminhar para uma polarização e tende a deixar 2022 bem desafiador, ainda que ajustes, como dos juros, busquem assegurar maior estabilidade.
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