Denise Campos de Toledo EECI

Em meio à onda otimista, melhor manter alguma cautela | Denise Campos de Toledo

A economia brasileira continua emitindo sinais muito favoráveis de retomada, que levam a expectativa de um fechamento de ano mais positivo. A confirmação veio no PIB do 1º trimestre, com expansão de 1,2%. Isso acabou levando a uma nova rodada de revisão das projeções do mercado quanto à expansão deste ano, que deve aparecer nos próximos boletins Focus. Os ajustes vão ocorrendo com cautela em algumas instituições, mas muitos analistas já preveem até mais de 5% de avanço do PIB.

Em meio a toda essa animação, estamos acompanhando uma forte recuperação da Bolsa, testando máximas do Ibovespa, com o dólar, no sentido inverso, testando mínimas. Já se considera, inclusive, a possibilidade de chegar aos R$ 5,00.

Além da resistência que a economia vem demonstrando, ainda houve uma melhora, inesperada, das contas públicas, com superávits em abril e no primeiro quadrimestre que reduzem o rombo projetado para o fechamento do ano, com redução também da previsão para a dívida pública em relação ao PIB.

O próprio avanço do PIB ainda tende a melhorar essa relação. Se antes o mercado tinha a preocupação com o risco de a dívida chegar aos 100% do PIB, agora as projeções então na faixa de 85…86%. 

Na verdade, os números apresentados não trazem nada de excepcional, quando se vê o desempenho da economia e das finanças de uma forma mais detalhada.

Mas é a velha história do bode: passamos por uma fase de tanto pessimismo, principalmente, com a segunda onda, que a melhoria dos números em várias frentes deu uma injeção de ânimo. Mostrou uma resiliência da atividade, que já tem implicações sobre as contas públicas. As contas foram favorecidas, é fato, pela contenção de gastos em função do atraso na aprovação do orçamento, só que também contaram com o reforço do aumento da arrecadação, que também é um termômetro dessa resistência da economia à pandemia e às medidas restritivas.

Eu citei detalhes porque ainda há muitas dificuldades a serem superadas até nesses indicadores. Em relação às contas públicas, sabemos do aperto no orçamento, da dificuldade de o governo conseguir rever as despesas obrigatórias e reduzir os gargalos, com a liberação de alguns recursos extras para vários ministérios.

O teto só está sendo respeitado porque as despesas relacionadas à saúde e à pandemia, como os vários programas, tiveram crédito extraordinário. E ainda é preciso gerenciar todas as concessões feitas através das emendas parlamentares, independentemente de estarem comprometidas ou não com a situação do País e das finanças.

A economia como um todo avançou, mas vários segmentos de Serviços ainda estão negativos, por reflexos da pandemia e restrições de atividade.

A própria indústria tem desequilíbrios, sofrendo até os efeitos do aumento de preços e da falta de insumos. Por fim, na composição do PIB, ainda se vê um impacto forte do aumento da demanda e dos preços das commodities, que reforçaram o avanço da agropecuária e da indústria extrativista, com impactos na produção de máquinas e equipamentos e no aumento do percentual de investimentos, que chegou perto de animadores 20% do PIB.

Por outro lado, o País ainda convive com desemprego elevado, especialmente na informalidade, perda de renda para boa parcela da população, com aumento da miséria e da insegurança alimentar, o que tem relação não só com o nível de desocupação, mas também com a inflação, que é outro problema.

A disparada dos índices de preço demonstra o impacto negativo do aumento das commodities, como elevação dos custos das empresas, o que, em certa medida, pode bater ainda mais no varejo, o que já vem acontecendo, inclusive, na alimentação. O IPCA, com as projeções persistentemente em alta, já eleva as projeções também para a Selic, que pode encostar nos 6% ainda neste ano.

Por fim, ainda temos, além da pandemia, claro, com possível terceira onda, a crise hídrica, que nos remete ao risco de uma crise na área energética, que vai além da mudança da bandeira tarifária e da elevação de custo. Situação que afeta a inflação e pode comprometer o potencial de expansão da economia que, em princípio, pode ganhar impulso o segundo semestre coma esperada aceleração da vacinação. Mas não se pode descartar o risco de apagões e até de algum racionamento.

O que temos, nesse balanço geral, são indicadores animadores, que impulsionam a Bolsa através do potencial de performance de vários setores, além da própria atração de investidores, pela melhoria da avaliação do risco país.

A elevação dos juros, por outro lado, também tem melhorado a atratividade e o comportamento do dólar, que são fatores que colaboram para um cenário de maior estabilidade. Sendo que o dólar também se beneficia dos bons saldos das contas externas, da balança comercial, que são outro dado positivo para o País.

Enfim, dá pra ficar mais otimista sim. Sempre com alguma cautela, até pelos impasses e noticiário não muito favorável do ponto de vista político, que sempre nos lembra que o Brasil não é para amadores. Pode parecer um comentário clichê, mas é o que a realidade nos mostra.

A Coluna da Denise Campos é publicada toda sexta-feira em nossa Newsletter ‘E Eu Com Isso’.

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Leia mais da Denise Campos de Toledo: Tem muito jabuti no avanço da agenda.

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