O principal produtor e maior consumidor de aço no planeta, a China, vem tendo um conflito interno entre o crescimento econômico e sua meta ambiciosa de descarbonização da economia até 2060.
Com a pandemia, houve uma queda brusca no movimento de comércio e serviços no país, o que levou o governo central a voltar a financiar o mercado de infraestrutura, aumentando fortemente a produção de aço no país, junto com o consumo, sobretudo no mercado de construção civil.
O problema é o nível alarmante de poluição nas principais metrópoles por lá, devido à forte produção de aço, que demanda uma quantidade de carvão na produção proporcional ao nível de aço que sai da indústria. Recentemente o ministro do Ambiente da China foi à Tangshan (um dos principais polos de produção siderúrgica do país) aplicando punições a algumas empresas locais com registros de produção falsos para contornar as metas de emissão de carbono.
Neste mês a liderança de Tangshan instruiu que as indústrias locais reduzissem a produção de aço em cerca de 30 por cento, adotou regras para que as siderúrgicas para renovarem seus altos-fornos, além de definir junho como um prazo para demonstrar a redução de emissão de carbono sob pena de multas.
E Eu Com Isso?
Os efeitos das mudanças na dinâmica industrial da China têm efeitos na cadeia de suprimentos globais, desta vez mais especificamente para a cadeia do aço. Para entendermos é preciso separar em duas frentes: a da oferta (produção) de aço e da demanda (consumo).
Pelo lado da demanda, apesar da China firmar um compromisso e ter “virado a chave” para a meta de economia mais limpa, a pandemia tem atrasado o início mais contundente das mudanças nessa frente, dado que o país possui como meta também de dobrar o seu PIB até 2035, sendo o setor de infraestrutura um dos principais meios para concretizar o crescimento econômico. O afrouxamento do crédito para essa frente tem feito a demanda seguir em níveis bastante fortes por lá, com o mercado imobiliário e infraestrutura em ascensão.
Pelo lado da oferta, com a promessa de lucros altos com a forte demanda por aço, as siderúrgicas vêm produzindo aço em ritmo acelerado, muitas vezes reativando estruturas já defasadas para atender a demanda, entrando em conflito com a meta ambiental do país, porém ganhando cada vez mais força por lá.
A redução da oferta no aço deve vir mais forte a partir de agora, com intervenção mais contundente das autoridades do país, porém a demanda por aço ainda deve seguir forte, com a China precisando continuar com o crescimento econômico.
Mas como isso afeta os preços das commodities? Com a redução forçada de produção, os níveis de preços atuais do minério de ferro devem começar a cair gradualmente. Por outro lado, os preços do aço, com a redução da oferta maior que a demanda no curto prazo, devem seguir altos, favorecendo as siderúrgicas no mundo todo, com a alta de preços do produto e redução do custo de produção (minério de ferro e produtividade no volume).
Além disso, favorece o lado da demanda, o megapacote trilionário de estímulo à infraestrutura nos EUA, que deve substituir em partes a redução da demanda por aço no médio prazo na China, que já vem retirando o financiamento aos poucos por lá.
No Brasil, a dinâmica favorece empresas como CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4), grandes produtoras de aço, que devem ver as margens da siderurgia crescerem com os seguidos aumentos de preço, puxado pelo Preço de Paridade Internacional e pela alta demanda por aço no mundo e no mercado doméstico, com a indústria local com dificuldades de abastecimento de matéria-prima para retomada de seus estoques. A notícia é levemente negativa para ações da Vale (VALE3), que podem sofrer no curto prazo com a possível redução nos preços do minério de ferro.
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