Foi um dos velórios mais longos de que se tem notícia. Durou mais de dois anos, mas foi concluído na tarde da terça-feira (23). Ontem, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), alterou seu voto anterior, proferido em março de 2018, e decidiu a favor da suspeição do juiz Sérgio Moro na condução dos processos da Operação Lava Jato que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após esse prolongado rito fúnebre, a maior operação de combate à corrupção já realizada pelo Judiciário brasileiro está oficialmente sepultada.
O impacto dessa decisão será profundo. É questão de tempo para os demais acusados e condenados pedirem a anulação de suas sentenças e prepararem seu retorno ao cenário político, o que vai embaralhar de vez as cartas da sucessão presidencial. As eleições agendadas para 2022 pareciam já estar definidas. No entanto, no dia 8 de março, o ministro Edson Fachin anulou as condenações de Lula. Apesar de a decisão ainda ter de ser confirmada pelo plenário do Supremo, em teoria isso torna o ex-presidente um “ficha limpa” e permite uma eventual candidatura. E a provável volta de Lula à disputa insere uma nova variável nas já complicadas equações eleitorais.
É difícil medir o peso político do ex-presidente, que foi julgado e condenado, e permaneceu 580 dias encarcerado na sede da Polícia Federal em Curitiba. O Lula que, eventualmente, aparecerá nas máquinas de votação no ano que vem é sem dúvida menor do que o candidato vitorioso em quatro eleições, duas em que concorria pessoalmente, e duas apoiando Dilma Rousseff. O quanto menor é a pergunta de vários bilhões de dólares. Medir a preferência do eleitorado é algo difícil em circunstâncias normais. Em um país devastado pela pandemia, a complicação aumenta exponencialmente.
E, ainda que seja possível medir o tamanho de Lula na preferência do eleitorado, a questão seguinte é: qual Lula está disputando a Presidência? O Lula fiscalmente responsável da Carta ao Povo Brasileiro de 2002 ou o Lula gastador pós-2008? O presidente que manteve Henrique Meirelles à frente do Banco Central (BC) por oito anos, ou o presidente que se aliou gostosamente ao Centrão para impedir as investigações do Mensalão e do Petrolão ainda em seu primeiro mandato?
Ainda não há respostas para essas perguntas, e nem se sabe se a decisão será sacramentada pelo plenário do Supremo. Mas isso acrescenta novas doses de incerteza a um cenário já bastante indefinido.
Se Lula é uma incógnita, o atual presidente também é. Não custa lembrar que, em 2018, o então candidato Jair Bolsonaro empunhava uma bandeira liberal, privatista e favorável às reformas. O presidente Bolsonaro avançou pouco com as reformas, desidratou o ministro Sérgio Moro, interveio na Petrobras e demorou um ano para ceder aos fatos de que há uma pandemia e que é preciso vacinar maciçamente o povo para contê-la. Qual desses dois Bolsonaros será candidato, o liberal ou o populista? Outra questão de vários bilhões de dólares.
Cenário Internacional
Os preços do petróleo vêm mostrando uma volatilidade elevada. Na terça-feira as cotações caíram devido a notícias de uma terceira onda da pandemia na Europa e da redução dos prognósticos para o crescimento da economia alemã em 2021. A estimativa agora é de um avanço de 3,7 por cento, abaixo dos 4,1 por cento previstos anteriormente. Divulgada na terça-feira (23), a nova estimativa derrubou os preços do petróleo em mais de 6 por cento. No entanto, as cotações estão subindo mais de 2 por cento nesta quarta-feira com notícias de que um navio porta-contêineres encalhou no canal de Suez, e está bloqueando a passagem, travando uma das principais rotas comerciais que abastece a Europa com petróleo.
Na manhã desta quarta-feira, os contratos futuros do petróleo do tipo Brent eram negociados a 62,38 dólares, alta de 2,62 por cento, e os contratos do petróleo do tipo West Texas Intermediate (WTI) eram negociados a 59,35 dólares, alta de 2,75 por cento. Os contratos de ferro com teor de 62 por cento eram negociados a 167 dólares por tonelada.
E Eu Com Isso?
A quarta-feira começa com uma alta nos contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500. No entanto, o dia pode ser marcado por volatilidade, na expectativa de mais um pronunciamento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, diante do Senado americano.