Copom EECI

O Copom e a vacina

A terça-feira começa com duas grandes expectativas. Uma delas, já esperada, é a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje e se encerra amanhã. A outra foi um susto. Até agora, 13 países europeus suspenderam a imunização contra o coronavírus por meio da vacina produzida pelo laboratório AstraZeneca, que no Brasil é produzida pela Fiocruz.

Começando pelo Copom. A autoridade monetária está em uma situação difícil de ter de escolher entre dois caminhos, o ruim e o pior ainda. O caminho ruim é elevar os juros, hoje em 2 por cento ao ano. Os prognósticos são de uma elevação de 0,5 ponto percentual, aumentando a Selic para 2,5 por cento ao ano. Também é possível, embora improvável, que o Copom seja ainda mais “hawkish” e eleve a taxa para 2,75 por cento ao ano. Sob qualquer ponto de vista, essa elevação dos juros sinaliza um encerramento da política monetária “excepcionalmente estimulativa” que vem sendo defendida pelo Copom desde o início da pandemia, apesar de a economia brasileira estar longe de sua capacidade máxima.

O caminho pior ainda é deixar a inflação permanecer em seu caminho de aceleração. Os índices mostram que o aumento de preços, turbinado por combustíveis e alimentos, não é algo pontual. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA de fevereiro. Os preços variaram 0,86 por cento no mês e 5,20 por cento em 12 meses, muito perto dos 5,25 por cento que são o teto da meta de inflação prevista para 2021 (3,75 por cento mais 1,5 ponto percentual de tolerância).

Não foi o único índice em alta. Na manhã desta terça-feira, a Fundação Getulio Vargas (FGV) informou que o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) subiu 2,99 por cento em março, em linha com os 2,97 por cento de fevereiro. Com esse resultado, o índice acumula alta de 7,47 por cento no ano e de 31,16 por cento em 12 meses. Em março de 2020, o IGP-10 havia variado 0,64 por cento e acumulava elevação de 6,59 por cento em 12 meses.

Apesar de o IGP-10 não ter muita importância prática e de o IPCA ainda estar, tecnicamente, dentro dos limites da meta, uma aceleração dos índices traz um risco elevado de “desancoragem” das expectativas de inflação por parte dos agentes econômicos. A economia brasileira é oligopolizada, fechada e pouco eficiente. Assim, se os agentes resolverem elevar seus preços, isso poderá trazer a inflação para um patamar bem mais elevado, obrigando o Copom a elevar os juros em maior proporção e por mais tempo do que o esperado.

Para piorar, a grande esperança dos investidores, que era a normalização das relações econômicas por meio da imunização generalizada sofreu um revés nesta manhã. Até agora, Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal e mais oito países europeus suspenderam as imunizações com as vacinas da Astra Zeneca (LEIA MAIS ABAIXO). O que levou 13 governos da Europa a interromper as vacinações foram suspeitas de que o medicamento provoca efeitos colaterais imprevistos. Na Noruega e na Dinamarca houve relatos da formação de coágulos sanguíneos e até casos de trombose em pacientes imunizados.

Ainda é cedo para saber se os efeitos colaterais são generalizados ou apenas casos isolados. No entanto, na dúvida, as autoridades sanitárias europeias resolveram adotar o caminho da precaução. E isso quer dizer um atraso na imunização das populações, com reflexos negativos na retomada da atividade econômica.

Calma que ainda não acabou. Começa também nesta terça-feira a reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), o Copom americano. As expectativas são de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mantenha inalteradas as políticas de estímulo e os juros baixos. Isso levou os principais índices americanos a registrar novos recordes na segunda-feira.

E Eu Com Isso?

O mercado permanece na expectativa das reuniões do Copom, do Fed e das notícias sobre a suspensão da imunização com a vacina da AstraZeneca. A bolsa está iniciando o dia sem tendência definida.

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