O cenário econômico brasileiro voltou a ficar bem conturbado. Aparentemente se pode ter até a impressão de uma certa acomodação de determinados impasses. Mas, na verdade, há uma falta, preocupante, de direcionamento da política econômica.
Tivemos toda a turbulência da troca de direção da Petrobras, em meio às discussões da política de preços dos combustíveis, o que passou a impressão de um intervencionismo nos moldes do que já vimos no passado, especialmente na época de Dilma Rousseff.
A reação foi pesada. Críticas para todos os lados, questionamentos jurídicos, queda forte das ações, alta do dólar, saída de capital da Bolsa.
O governo, ao sentir o tamanho da encrenca, amenizou o tom, foi para o pessoal, com críticas diretas a Roberto Castelo Branco, pelo home office, pelo salário que recebe.
Paralelamente tentam avançar com as pautas de privatização da Eletrobrás, o projeto dos Correios. A ideia é mostrar que a pauta das privatizações pode avançar, sem intervencionismo. Mas tudo muito mal resolvido, com fortes resistências, sem projetos concretos.
De outro lado, tem a novela do auxílio emergencial e da PEC Emergencial. PEC que não para de ser esvaziada e ainda tentou abrir espaço para redução do compromisso de gastos com dois setores sociais (saúde e educação).
Isso sem mexer com privilégios, como das políticas de salários dos militares. Outras compensações de despesas previstas para o longo prazo. O que fica, por enquanto, é a possibilidade de o auxílio ser liberado extra teto, numa situação de calamidade, sem compensação, o que pesa do ponto de vista da responsabilidade fiscal.
Tudo isso ocorrendo, bom observar, com total omissão do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na indefinição de cenário, ainda cabe ressaltar o comportamento da inflação. Mesmo que os índices estejam mais ou menos com alguma desaceleração e dentro do esperado, continuam rodando em patamar alto, com maior espalhamento de reajustes no varejo e fortes pressões no atacado.
Pressões que configuram elevação de custos para as empresas, com possíveis repasses no varejo, como vem ocorrendo com os combustíveis. Nesse contexto é bem possível que já venham ajustes na Selic nas reuniões de março e maio do Copom.
Claro que nessa perspectiva de alta dos juros também entram as incertezas no campo fiscal e ruídos como da Petrobras, que sustentam o dólar em patamar mais alto.
Podemos ter juros em alta, num cenário de economia ainda fraca, até com retração no primeiro trimestre, também prejudicada pela lenta vacinação e todos os impasses políticos em torno do tema.
O Brasil não é para amadores. Mas, do jeito que está, tem passado rasteira até nos profissionais. Não dá para sossegar. E o mercado vai seguir nesse embalo, sem conseguir acompanhar mais de perto as ondas mais favoráveis que vêm do exterior.