Nesta segunda-feira (22), após o fechamento do mercado, a Itaúsa (ITSA4) divulgou seu resultado do último trimestre de 2020. Por ser uma empresa de participações (holding) com praticamente 100 por cento do capital investido em companhias de capital aberto que já reportaram seus resultados previamente, os números não apresentaram grandes surpresas.
O lucro líquido da companhia atingiu 3,6 bilhões de reais no trimestre, apresentando um crescimento de 6,2 por cento em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. A companhia fechou o ano com um lucro líquido de 7,1 bilhões de reais, representando uma queda de 31,6 por cento em relação a 2019.
Com isso a companhia obteve um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 13,0 por cento no ano, um decréscimo considerável em relação aos 19,4 por cento apresentado no ano anterior.
O resultado da própria Itaúsa, isto é, os custos da holding, tiveram um crescimento anual de 35,7 por cento no trimestre, atingindo 81 milhões de reais, com destaque negativo para o crescimento de 110 por cento nas despesas tributárias. Apesar da piora no trimestre, no acumulado do ano passado os custos tiveram uma queda de 12,6 por cento, fechando o ano em 383 milhões de reais.
Outro importante fator a ser analisado no caso de Itaúsa – o desconto de holding, que demonstra o desconto do somatório do valor de mercado das suas participações (Itaú, Alpargatas e Duratex) em relação ao valor de mercado das suas ações (Itaúsa) fechou 2020 em 22,7 por cento, acima da média dos últimos trimestres.
E Eu Com Isso?
Acreditamos que os números divulgados devem ter pouco impacto no preço das ações da Itaúsa (ITSA4) no curto prazo, uma vez que as companhias às quais a Itaúsa tem participação já haviam divulgado seus resultados do quarto trimestre, principalmente o banco Itaú que representou 87 por cento do resultado da Itaúsa no trimestre.
Em novembro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra da Liquigás pelo grupo formado pela Itaúsa, Copagaz e Nacional Gás Butano, com a conclusão do negócio comunicada em dezembro. Com isso, a Itaúsa também realizou um aporte de 1,23 bilhão de reais para adquirir cerca de 48,5 por cento da Copagaz, reforçando a estratégia da companhia de expandir seu portfólio em setores não financeiros. Pelo negócio não envolver outras companhias de capital aberto, esperamos que durante a teleconferência de resultados marcada para hoje (23) às 10:00 os executivos tragam maior visibilidade para os indicadores operacionais do novo investimento.
No início deste ano, o Itaú aprovou a distribuição de sua participação na XP para seus acionistas, em um movimento, que na nossa visão, visa melhorar a visibilidade do mercado quanto ao valor real de seus ativos. Como resultado, a Itaúsa receberá 15 por cento do capital social total da XP, se tornando o segundo maior investimento da holding, atrás somente do próprio Itaú. No acordo, tanto a Itaúsa, quanto a IUPAR, holdings controladoras do Itaú, concordaram em não vender a participação recebida de forma direta até o dia 30 de outubro.
A companhia ainda não divulgou se pretende manter a XP em seu portfólio, apesar de já ter divulgado em comunicado que não enxerga o ativo como estratégico. Esperamos que os analistas façam perguntas quanto a isso durante a teleconferência de resultados, o que pode impactar significativamente os preços das ações da companhia e da própria XP (XP Nasdaq).
Análise complementar
Em nossa visão, a cisão entre o banco e a corretora faz bastante sentido para o Itaú ter sua performance mais bem precificada pelo mercado, porém a lógica não é a mesma quando falamos de Itaúsa. Por ser já ser uma holding, a precificação de mercado da companhia é feita baseada justamente nos seus ativos, logo a decisão de manter a participação da XP em seu portfólio deve ser feita do ponto de vista da estratégia de longo prazo da holding para trazer a melhor relação risco/retorno para seus acionistas.
O perfil de companhias no portfólio da Itaúsa sugere uma preferência por companhias mais conservadoras, com fluxo de caixa estável, ponto que a própria companhia destacou ao falar do investimento no setor do novo investimento no setor de gás.
Apesar da XP não apresentar o perfil conservador como outros investimentos do portfólio, a Itaúsa vai manter alguns direitos especiais, oriundos do investimento inicial do Itaú, entre eles o direito a ao recebimento de indicadores operacionais mensalmente, o que na prática lhe dá maior visibilidade em relação ao futuro do que o mercado em geral.
Acreditamos que mesmo se a companhia decidir por não manter sua posição na corretora, ela não deve dar indicativos claros disso no futuro próximo para não impactar o preço de seus ativos negativamente. Pela mesma razão não esperamos que a companhia venda toda sua participação logo após o período de lock up acordado com a XP.