Dois motivos provocaram a forte baixa das ações na quinta-feira. Um deles foi a decisão do governo paulista de ampliar as medidas de isolamento social. A partir desta sexta-feira (22), haverá fase vermelha, com fechamento de lojas, bares e restaurantes nos fins de semana e nas noites dos dias úteis após as 20 horas. A fase vermelha é a mais restritiva e funciona quase como um toque de recolher. O objetivo das medidas é conter o rápido crescimento das contaminações e do número de vítimas da Covid-19, que vêm avançando aceleradamente nos últimos tempos e retornaram aos picos do início da pandemia.
Se o governo paulista não se acanha em – corretamente – fechar lojas, o Legislativo federal não se incomoda em escancarar as portas dos cofres do Estado. O senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à Presidência do Senado, disse com todas as letras na quinta-feira (21) que é necessário retomar a discussão sobre um auxílio aos mais necessitados diante da crise do coronavírus. Para piorar, Pacheco, que é visto como favorito na disputa por ter o apoio do Palácio do Planalto, disse que não pretende colocar em pauta a privatização da Eletrobras, levando as ações da estatal a cair mais de 6 por cento no pregão da quinta-feira.
O mesmo discurso, duas reações. Nos Estados Unidos, as autoridades anunciam um pacote de gastos para enfrentar as consequências da pandemia. As ações sobem. No Brasil, um candidato à presidência do Senado fala em aumentar o auxílio para combater a pandemia. As ações caem. Como explicar essa diferença?
Em parte, pela história. Os Estados Unidos nasceram a partir de uma disputa fiscal. No fim do século XVIII o Império Britânico estava falido e resolveu elevar brutalmente a tributação sobre as colônias. A reação a esse aumento de impostos levou à Independência. Nos Estados Unidos, o conceito “dinheiro dos contribuintes” é quase tão sagrado quanto o de Deus. Qualquer político que aventasse a hipótese de aumentar os gastos de maneira irresponsável teria sua carreira interrompida no ato. Por isso, quando o governo americano fala em aumentar gastos, há uma convicção de que esse movimento é necessário e será realizado com todo o cuidado. No Brasil não existe essa responsabilidade.
Indicadores
A primeira prévia da Sondagem da Indústria de janeiro sinaliza uma queda de 3,5 pontos do Índice de Confiança da Indústria (ICI) no primeiro mês de 2021 em relação aos 111,4 pontos de dezembro. Se o resultado se confirmar, essa será a primeira queda desde abril de 2020, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). A redução no resultado prévio da confiança industrial ocorre em consequência de redução da satisfação sobre o momento presente e piora das expectativas em relação aos próximos meses. No levantamento prévio, o Índice de Situação Atual pode cair 3,2 pontos para 116,7 pontos e Índice de Expectativas cederia 3,6 pontos, para 106,0 pontos.
Internacional
Os números da economia europeia divulgados na manhã desta sexta-feira mostraram uma desaceleração das atividades. O PMI Composto da zona do Euro recuou de 49,1 para 47,5, em um cenário de reforço das medidas de isolamento. As vendas no varejo do Reino Unido de dezembro também ficaram bem abaixo das expectativas.
E Eu Com Isso?
O endurecimento das medidas de restrição e as declarações contrárias à estabilidade das contas públicas e à privatização da Eletrobras devem continuar exercendo uma pressão negativa sobre os mercados nesta sexta-feira. Os contratos futuros de Ibovespa estão iniciando a última sessão da semana com uma queda de cerca de 1,5 por cento.