O Brasil tem dado algumas demonstrações de potencial de atratividade e de voto de confiança do capital externo. Além da volta do investimento estrangeiro para a Bolsa, desde o começo de novembro, o País foi bem sucedido na colocação de títulos soberanos, com prazos diferentes, curtos e longos, e juros menores que da oferta anterior.
Isso vai reforçar o caixa do Tesouro, em um momento de maior dificuldade de rolagem da dívida pública, que terá grande concentração de vencimento no começo do ano. O capital externo, além de impulsionar o mercado de ações, tem colaborado para a manutenção do dólar em patamar mais baixo, o que tende a diminuir a pressão sobre os índices de preços, pelo menos no que depende do câmbio.
É certo que não dá para se empolgar muito com esses dados. O Brasil está muito no embalo do mercado internacional, que aumentou o apetite ao risco, desde a eleição de Biden, nos Estados Unidos, pela sinalização de políticas mais estáveis, com mais estímulos à retomada, e, por outro lado, pelo noticiário, cada vez mais animador, quanto às vacinas contra o coronavírus.
Aliás, vale observar que as vacinas estabelecem agora um cenário mais concreto. Existe uma previsão de vacinação em larga escala para livrar o mundo da pandemia, que foi o que derrubou as economias este ano, desmontando até os programas mais bem estruturados. Basta ver a reviravolta, inclusive política, que houve nos EUA. Antes da pandemia a vitória de Trump parecia garantida.
Mas aí voltamos ao Brasil. Fica claro que se o País for capaz de emitir sinais mais favoráveis, pode continuar com acesso ao mercado internacional para captação de recursos, atraindo investimentos para o mercado e investimentos diretos, aqueles destinados a projetos empresariais e de infraestrutura, inclusive, participando das privatizações, além de concessões, caso o governo consiga tirar os projetos do plano das intenções.
O fluxo maior vai depender de uma diminuição das incertezas, especialmente no campo fiscal, que também têm deixado os investidores locais e o próprio mercado mais arredios.
A indicação agora é que, pelo menos a LDO, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, seja votada neste ano, o que evita problemas mais sérios na execução das despesas do governo no começo de 2021.
Mas vai ser uma aprovação via plenário, sem a comissão mista, que não foi formada pelos embates políticos entre Rodrigo Maia e Bolsonaro. Embate não só pela presidência da comissão, mas também da Câmara, que terá eleições em fevereiro. Sendo que o STF ainda vai julgar se há possibilidade de reeleição de Maia, assim como de Alcolumbre, no Senado. É ver o quanto que essa disputa não vai continuar travando a pauta. No jogo de forças se cogita até a votação da Reforma Tributária sem necessidade de apoio do governo, como sinalizou Maia.
Bolsonaro, do seu lado, tem mandado recados no sentido de adiar o Renda Brasil e respeitar o teto de gastos. Postura que, se mantida, ajuda muito na manutenção do atual clima de maior otimismo.
Fora a pauta do Congresso, em particular, a que se refere às finanças públicas, é preciso garantir continuidade da retomada da atividade. A expansão de 7,7% do PIB, no terceiro trimestre, apesar de ter tirado o Brasil da recessão técnica, veio abaixo do previsto, assim como outros indicadores, o que já pode ter tido alguma influência do corte do auxílio emergencial, combinado com desemprego em alta e inflação, também em alta, comprometendo o poder de compra da população.
O governo aposta muito no aumento da poupança para sustentar a reação da atividade, no ritmo esperado. E também confia no andamento, ainda que atrasado, da agenda de reformas, marcos regulatórios e privatizações.
Por enquanto o que se tem é um cenário menos pessimista, que deu espaço para o mercado respirar, com reflexos, claro, no potencial dos resultados dos investidores. Se as aplicações atreladas aos juros já não asseguram os ganhos confortáveis do passado, ativos de maior risco podem se sobrepor num ambiente como das últimas semanas. É o que tem acontecido com a Bolsa.