A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa referencial Selic em 2 por cento ao ano não surpreendeu ninguém. No entanto, o comunicado dessa decisão, divulgado pelo Banco Central (BC) na noite da quarta-feira (28) teve alguns pontos inesperados. O principal deles é que a autoridade monetária não vê grandes riscos de inflação.
A explicação é a situação da economia, tanto no Brasil quanto no Exterior. A situação doméstica é vista assim: “Os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos (…) [e] a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano”, é o que diz o comunicado. O quadro internacional não é muito melhor. “No cenário externo, a forte retomada em alguns setores produtivos parece sofrer alguma desaceleração, em parte devida à ressurgência da pandemia.”
A inflação vem apresentando uma alta consistente, o que fez o Copom elevar suas projeções para este ano, 2021 e 2022 em 0,1 ponto percentual. No entanto, a alta tem sido mais visível nos IGPs do que nos IPCs (leia mais abaixo). Por isso, o BC descartou a hipótese de um susto nos preços. “As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária”, diz o comunicado. Tradução: não será preciso subir os juros. Esse comunicado mais “dovish”, ou seja, indicando menos rigidez com a inflação, pegou boa parte dos investidores de surpresa. Muitas pessoas esperavam uma sinalização mais forte do BC com relação à inflação.
INDICADORES 1 – Os números da economia americana têm melhorado. Nesta quinta-feira, as autoridades anunciaram um crescimento de 33,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) americano no terceiro trimestre, após a forte queda de 31,4 por cento no segundo trimestre devido às medidas restritivas para conter o coronavírus. O resultado foi melhor do que o esperado. As estimativas eram de um crescimento de 31,0 por cento.
Os pedidos iniciais de seguro-desemprego (jobless claims) para a semana encerrada no dia 24 de outubro caíram para 751 mil, baixa de 40 mil pedidos em relação ao levantamento anterior, confirmando as expectativas.
INDICADORES 2 – O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) variou 3,23 por cento em outubro, percentual inferior ao apurado em setembro, quando havia apresentado taxa de 4,34 por cento. Com este resultado, o índice acumula alta de 18,10 por cento no ano e de 20,93 por cento em 12 meses. Em outubro de 2019, o índice havia subido 0,68 por cento e acumulava alta de 3,15 por cento em 12 meses. A principal causa da desaceleração foi a queda dos preços do minério de ferro, que recuaram 0,71 por cento após terem subido 10,81 por cento em setembro. Com isso, o Índice de Preços ao Produtor no Atacado (IPA) desacelerou de 5,92 por cento para 4,15 por cento.
As ações desabaram ao redor do mundo na quarta-feira, em um movimento de quase pânico devido ao temor com a volta da Covid-19. Nesta quinta-feira os mercados começam o dia em leve alta, parcialmente compensando o movimento da véspera, em parte devido aos bons indicadores da economia americana. O cenário é positivo, em um ambiente de volatilidade.
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