A votação das eleições americanas acabou nesta terça-feira (3), mas o cenário mais pessimista para os mercados parece estar se concretizando: com uma disputa muito mais acirrada que as expectativas – provavelmente, deflagrando, mais uma vez que as pesquisas vêm tendo fortes dificuldades em captar o voto do americano –, a disputa não deve ser encerrada, no mínimo, até essa quinta-feira (5).
Isto porque os estados decisivos devem levar mais tempo para finalizarem sua apuração. No caso de Nevada, por exemplo, os votos pelos Correios recebidos no dia de ontem somente serão contabilizados, de fato, amanhã. Nos outros estados, vai depender muito do perfil de condados que ainda não tiveram seus votos totalmente apurados e, ainda, da demorada (em alguns casos) apuração dos votos enviados por meio do US Postal Service (correio americano).
O inegável, contudo, é que, seja quem for o vencedor – atualmente, praticamente impossível de saber –, a margem deve ser apertada. Conforme escrevi neste relatório divulgado ontem à noite, caso a margem de diferença entre os dois candidatos fique em 50 delegados ou menos, deve haver contestação dos resultados. Nesse momento, é o desfecho mais provável.
Aliás, o mercado reagiu com nervosismo quando Trump declarou, durante a madrugada, que já podia ser considerado vencedor e que qualquer resultado adverso seria contestado na Justiça. O atual presidente sinalizou, ainda, que vai recorrer à Suprema Corte para interromper a apuração de votos. Biden, junto à sua equipe de campanha, rebateu a declaração nesta manhã, afirmando que o resultado ainda não é final e que não aceitarão que a apuração seja parada.
No Senado americano, a disputa também permanece aberta por enquanto. Com somente parte do total dos votos apurados, ainda estão em jogo cadeiras nos estados de Maine, Carolina do Norte, Michigan, Alaska e Georgia. Até o fechamento desta edição, o Senado estaria com 47 democratas, 47 republicanos e 50 cadeiras indefinidas. Com o “Blue sweep” (possibilidade que previa vitória esmagadora de Biden na corrida presidencial e também no Senado) descartado, contudo, os Republicanos têm tudo para manter o controle da Casa neste pleito.
Sem sombra de dúvidas, o cenário eleitoral neste momento é cheio de incertezas, na contramão do que Wall Street e, por consequência, a bolsa brasileira, gostaria. A repercussão deve continuar negativa à medida que Trump force a contestação do pleito por meios judiciais, arrastando a conclusão das eleições de 2020 ainda mais. Em outras palavras, depende-se da contagem restante de votos, que já será demorada, para saber o vencedor. E mesmo assim, corre-se o risco de haver mudanças nos resultados com eventuais anulações de votos. Um cenário bastante negativo para os mercados.
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