A relação entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, continua bastante tensionada. Já desgastada há algum tempo – desde desavenças técnicas, como o desenho da reforma tributária, a questões pessoais, como a luta por protagonismo no Planalto –, a relação entre os dois ministros teve outro episódio de troca de farpas na última sexta e durante o fim de semana.
De modo latente, existe uma divisão bastante clara entre fiscalistas, grupo liderado pelo ministro da Economia, e desenvolvimentistas, ligados a Marinho. Como pano de fundo dessa disputa, está o teto de gastos. Marinho considera que haveria espaço para excluir o Renda Cidadã do limite de teto, ainda que temporariamente. Na sexta-feira, após conversa de Marinho com investidores em que o ministro do Desenvolvimento Regional teria afirmado que o programa vai ser criado “de qualquer jeito”, levantou-se rumores de que Marinho teria, também, falado mal de Guedes. Segundo Marinho, Guedes teria perdido a confiança do senador Márcio Bittar, relator do Orçamento de 2021, e a equipe econômica estaria “desgovernada”.
O ministro da Economia reagiu, afirmando que não acreditava que Marinho havia feito tais comentários, mas se o fez, o seu colega seria “despreparado, desleal e fura teto”. Marinho, por sua vez, afirmou posteriormente que suas falas teriam chegado à imprensa “de maneira distorcida”. Interlocutores do Planalto tiveram que correr para colocar panos quentes na história, uma vez que a semana passada trouxe bastante instabilidade para os mercados.
O mais recente desentendimento entre as partes expõe o porquê de os investidores estarem preocupados com a condução da política econômica do governo atual. Diante de um dilema (como financiar o Renda Cidadã?), pressões antifiscalistas ficam cada vez mais intensas e a equipe econômica corre contra o tempo para apresentar uma alternativa que financie o programa sem aumentar gastos.
Paulo Guedes acaba sendo – parafraseando o que o próprio ministro disse sobre o teto de gastos – a última barreira para o populismo fiscal, cujas consequências o mercado sabe que são extremamente negativas. Infelizmente, Guedes vai ficando cada vez mais isolado na sua luta contra o rompimento do teto. Recentemente, o ministro da Economia cortou relações com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e agora o novo atrito com Marinho deixa os investidores apreensivos quanto ao futuro político do ministro.
O fim de semana acabou servindo para apaziguar os ânimos entre os lados e o mercado não deve penalizar o último revés político do governo, com exceção das curvas de juros futuros, que devem apresentar alta nesta segunda.
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