A Lojas Renner (LREN3) divulgou nesta segunda-feira (31), após o fechamento do mercado, seus números referentes ao 2T20. Os números foram fracos e com o impacto da pandemia acima da expectativa, o que levou à piora nas linhas mais importantes do seu resultado. Contudo, as entregas do varejo digital foram animadoras e surpreenderam positivamente.
Os principais destaques negativos vieram da receita líquida do varejo, que totalizou 539 milhões de reais, queda de 73,3 por cento na comparação anual. O indicador de vendas mesmas lojas (SSS), que retira do cálculo as lojas abertas nos últimos 12 meses, recuou 74,1 por cento.
A margem bruta, que foi de 44,8 também decepcionou, com queda de 11,6 p.p na comparação com o 2T19.
Já os destaques positivos vieram do bom controle das despesas gerais e administrativas, que recuaram 17,5 por cento na comparação anual e no avanço do varejo digital, que segundo a companhia cresceu 122 por cento no trimestre e representou 36 por cento das vendas.
Na última linha a Renner registrou um lucro líquido de 818 milhões de reais, crescimento de 254 por cento na comparação anual. Contudo, o resultado foi beneficiado por um ganho da ordem de 1 bilhão de reais não operacional, não recorrente e não caixa referente ao êxito em ação judicial de exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da Cofins.
O resultado das Lojas Renner foi pior do que as expectativas, mas a abertura do crescimento das linhas do varejo digital mês a mês foram boas e a mensagem de que a companhia irá investir no segmento devem prevalecer sobre o resultado fraco. Assim, esperamos impacto positivo no preço das ações na sessão desta terça-feira (1).
Além do ganho não recorrente transformar prejuízo em lucro líquido, o mercado já havia precificado em maio, quando a Renner emitiu fato relevante anunciando êxito na ação judicial sobre os tributos.
Importante destacarmos que o desastre na receita foi devido ao largo período de fechamento das unidades físicas. Até 24/abr, ou seja, em mais de 50 por cento do trimestre, a Renner ficou com 100 por cento das suas unidades fechadas. No final do trimestre 69 por cento das lojas estavam em operação, e segundo a companhia 100 por cento delas já foram reabertas.
Além disso, ressaltamos que das 597 lojas Renner (incluindo YouCom e Camicado), 560 (94 por cento) estão localizadas dentro de shopping centers, que vem recebendo bem menos movimento que no comércio de rua.
Na parte de serviços financeiros também houve impacto relevante. O resultado líquido foi um lucro de 53 milhões, queda de 42 por cento na comparação anual. O impacto veio principalmente com o aumento da inadimplência e aumento das provisões para perdas com devedores duvidosos (PDD). As perdas líquidas de recuperações sobre a carteira ficou em 5,1 por cento, 1,5 p.p a mais que no 2T19.
A queda na margem bruta foi resultado dos descontos concedidos na coleção de inverno. Com parte do trimestre perdido, a Renner teve de “correr” para vender a sua coleção produzida para não perder o estoque.
O Ebitda ajustado do varejo no 2T20 reportado pela Renner foi de 455 milhões de reais. Contudo, excluindo o efeito do ganho não recorrente o Ebitda foi negativo em 280 milhões de reais.
Sem o ganho não recorrente, a Renner teria obtido um prejuízo de 228 milhões de reais no trimestre, revertendo o lucro de 230 milhões de reais apresentados no 2T19.
O mercado deve atentar-se também aos aspectos qualitativos do resultado. Segundo a companhia, a pandemia acelerou os investimentos no comércio eletrônico da empresa, e que está será uma tendência dentro da sua estratégia. Na nossa visão esta diretriz é positiva e o mercado deve receber bem este aspecto.
Os dados do varejo eletrônico reportados são animadores. Em abril o crescimento das vendas online foi de 25 por cento, acelerando para 120 por cento em maio, 214 por cento em junho (122 por cento no trimestre), 239 por cento em julho e 206 por cento em agosto. Apesar de uma base comparativa fraca, os números da operação online da Renner devem acelerar com a mudança nos hábitos do consumidor e os investimentos da companhia no digital.
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