A tarefa básica dos bancos centrais é defender o valor da moeda nacional no longo prazo. No Brasil, com sua memória inflacionária, isso significa impedir os preços de subir descontroladamente. Nos países desenvolvidos neste ano de pandemia, essa tarefa vem mudando de sentido. Agora, o maior temor é que o desaquecimento econômico provoque uma deflação, uma queda acentuada e sistemática de preços devido ao enfraquecimento da demanda. Se persistente, a deflação é tão perniciosa para a saúde da economia quanto uma inflação prolongada. Por isso, os investidores ao redor do mundo aguardam ansiosamente o comentário do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) nesta quarta-feira (19), quando a instituição deverá reafirmar seu compromisso com a política de estímulos econômicos e monetários, impedindo uma desaceleração exagerada da economia americana.
A melhor indicação para essa expectativa são as taxas de juros dos títulos americanos de dez anos indexados à inflação. A remuneração desses papéis referenciais para o mercado americano subiu para 1,69 por cento ao ano, ante os 0,47 por cento ao ano registrados em março. Isso indica uma perspectiva de aumento da inflação nos Estados Unidos, com a continuidade das políticas de estímulo.
Não por acaso, os preços dos ativos reais continuam avançando. Na terça-feira (18) vários índices de ações americanos registraram recordes, e o ouro foi negociado pela primeira vez na história acima de 2 mil dólares por onça-troy (31,1 gramas). Todos esses sinais fazer os investidores acreditar que o Fed pode estar contratando um aumento na inflação. Se os investidores estão apostando que os aumentos de preços vão se acelerar, a esperança é que os consumidores e as empresas gastem o suficiente para que isso aconteça, dado que a inflação ainda está bem abaixo da meta de 2 por cento ao ano estabelecida pelo Fed. Esse objetivo nunca foi alcançado de forma sustentada desde que foi adotado em 2012.
Com isso, o índice americano S&P 500 registrou um novo recorde ontem e poderá repetir a façanha nesta quarta-feira. Além da manutenção dos juros perto de zero por muito tempo, o mercado está animado com a possível aprovação de medidas de estímulo no Congresso americano, com lideranças da oposição democrata sinalizando uma disposição para mais compromissos.
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