Na última quinta (21), a empresa de resseguros IRB Brasil Re (IRBR3) demitiu o contador Paulo Daniel Araújo da Rocha, diretor de controladoria da resseguradora. De acordo com a mídia, a demissão por justa causa foi devido a alegação de “fraude em contratos”. O IRB ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso.
Além da demissão de seu contador, na última semana, o IRB se reuniu com clientes para esclarecer que, apesar de estar sendo alvo de uma fiscalização especial da reguladora Susep, não tem problemas de solvência e seguirá cumprindo seus contratos.
O IRB argumenta que tem condições de resolver o problema transformando ativos que hoje não são elegíveis para as provisões em ativos elegíveis. Um exemplo seria vender uma participação imobiliária e transformar os recursos numa aplicação financeira.
Somado a isso, no dia 4 de maio, a empresa já havia anunciado que adiou a divulgação do resultado do primeiro trimestre de 2020 para 18 de junho.
A saga negativa do IRB continua: renúncia de membros do Conselho de Administração, fiscalização da Susep devido à falta de garantias técnicas na operação, saída de mais um responsável por “assinar” as demonstrações financeiras e contábeis do IRB e postergação da divulgação do resultado do primeiro trimestre de 2020.
No momento atual, a visibilidade sobre o balanço do IRB Brasil (IRBR3) é muito baixa, pois o resultado do primeiro trimestre será divulgado apenas em 18 de junho.
As ações da empresa (IRBR3) acumulam queda de por 81,6 cento em 2020, comparado à queda de 29 por cento do Ibovespa no mesmo período.
Em nossa visão, a empresa deveria realizar uma teleconferência antes dessa data a fim de dar uma satisfação muito necessária ao mercado em relação às notícias acima. Até lá, novos capítulos negativos vão surgindo, o que mantém nossa perspectiva negativa com o papel no curto prazo.
Em fevereiro, a insuficiência de provisões técnicas que motivou a fiscalização agora em maio era de 300 milhões de reais. Esse valor, conforme a apresentação feita à clientes pelo IRB, é a diferença entre a necessidade de provisões de 9,8 bilhões e os 9,5 bilhões em ativos elegíveis para constituí-las.
A relação entre os ativos que a empresa tem e que são elegíveis para as provisões e a necessidade de provisões técnicas precisa ser superior a 100 por cento. No IRB, ela estava perto de 98 por cento em fevereiro.
Esse percentual se deteriorou nos meses seguintes, uma vez que o IRB alega que o indicador foi prejudicado pela desvalorização cambial, que se acentuou em março e abril. Foi esse aumento de desenquadramento que levou à fiscalização da Susep recentemente.
No final de abril, Bradesco e Itaú pediram para deixar o Conselho de Administração e, na semana passada, Thaís Peters também renunciou. Ela foi eleita para o cargo em 19 de setembro de 2019 para ser suplente de Pedro Duarte Guimarães, que deixou a companhia em março quando era o presidente interino do conselho.
Em resumo, apenas nas últimas semanas, a empresa adiou a divulgação de resultados, perdeu membros do conselho, sofreu fiscalização da Susep e registrou a saída do contador. Isso sem considerar o fato gerador apontado pela gestora Squadra em fevereiro sobre a existência de indícios que apontavam para lucros recorrentes “significativamente inferiores” aos lucros contábeis reportados pela companhia.
Por último, as más notícias sobre o IRB parecem não ter fim e as incertezas sobre as demonstrações financeiras da companhia crescem a cada dia no mercado, com falta de transparência da companhia sobre os assuntos discutidos acima.
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