A semana começa com os mercados internacionais em alta. O que animou os investidores foram as notícias de que o isolamento social para conter a pandemia do coronavírus pode começar a ser relaxado. Na Espanha, um dos países europeus mais atingidos pelo vírus, as crianças foram autorizadas a sair de casa pela primeira vez em várias semanas, para alívio dos investidores (e dos pais). Na Itália e em Nova York, também duramente atingidas pela pandemia, os governos divulgaram cronogramas tentativos de relaxamento das medidas de isolamento. E, para aumentar o otimismo, o Banco do Japão, o banco central japonês, anunciou na manhã desta segunda-feira (27) que vai aumentar o estímulo monetário à economia.
O Banco do Japão deverá comprar uma “quantidade praticamente ilimitada” de títulos públicos e privados para manter baixos os custos dos empréstimos e garantir que não falte liquidez à economia japonesa. O limite de compras foi elevado para 20 trilhões de ienes, ou 186 bilhões de dólares. Ao anunciar as medidas, Haruhiko Kuroda, presidente do Banco do Japão, disse que a autarquia estava pronta para agir mais para combater o impacto do novo coronavírus, que ele disse que poderia causar mais danos à economia global do que o colapso do banco de investimentos Lehman Brothers, ocorrido em setembro de 2008.
INDICADORES – A edição do Boletim Focus desta segunda-feira (27) mostra que as expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro voltaram a cair. O prognóstico para 2020 piorou para uma retração de 3,34 por cento, ante os 2,96 por cento da semana anterior. No caso da inflação medida pelo IPCA, a estimativa apresentou mais uma leve queda, para 2,20 por cento ante os 2,23 por cento da semana anterior. Foi a sétima queda consecutiva. As expectativas para a taxa de juros referencial Selic e para a taxa de câmbio no fim de 2020 permaneceram inalteradas em 3 por cento e em 4,80 reais, respectivamente.
O Índice de Confiança do Comércio (Icom) recuou 26,9 pontos em abril, caindo para 61,2 pontos ante os 88,1 pontos registrados em março. Foi a maior queda desde o início da série e o mínimo da série histórica, iniciada em abril de 2010, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). Considerando-se a média móvel trimestral, o índice caiu 12,3 pontos em relação aos três meses findos em março. O Índice de Expectativas (IE-COM), despencou 19,5 pontos e atingiu 63,2 pontos, o menor patamar desde o início da série. O Índice de Situação Atual (ISA-COM) teve perda de 33,0 pontos, registrando 60,9 pontos, o segundo menor valor da série histórica, perdendo apenas para os 58,4 pontos de outubro de 2015.
Movimento semelhante ocorreu com o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que caiu 22,0 pontos em abril, para 58,2 pontos, o menor nível da série histórica iniciada em setembro de 2005. O mínimo histórico anterior haviam sido os 64,9 pontos de dezembro de 2015. Tanto as avaliações sobre o presente quanto as expectativas para os próximos meses se deterioraram. O Índice de Situação Atual (ISA) caiu 10,5 pontos, para 65,6 pontos, o menor nível desde os 64,8 pontos de dezembro de 2016. O Índice de Expectativas (IE) caiu 28,9 pontos para 55,0 pontos, o menor valor da série histórica. “É difícil ainda enxergar uma melhora significativa nos próximos meses, dado o nível elevado de incerteza econômica e política”, diz Viviane Seda Bittencourt, Coordenadora das Sondagens da FGV.
O dia hoje será de forte alta nos mercados. Além dos fatores comentados acima, destaco outros dois pontos, relacionados ao ambiente interno.
(i) O discurso do presidente Bolsonaro esperado para esta manhã ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, reafirmando a independência da gestão econômica e que o foco de sua gestão continua sendo a responsabilidade fiscal e a política liberal;
(ii) O discurso do presidente na sexta-feira comentando a saída do ex-ministro Sergio Moro, enquanto os mercados já estavam fechados (apenas o mercado futuro estava aberto). A avaliação é que, embora parcialmente convincente, a fala serviu para reduzir um pouco a apreensão entre parte dos investidores.
A incerteza provocada pelo cenário político doméstico aumentou na última semana. Por outro lado, a alta dos mercados internacionais será suficiente para sustentar a valorização das ações hoje.
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