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Gabinete Anticaos – Ep. 23

Olá, investidores.

Tudo bem?

No Gabinete Anticaos de hoje, iremos falar sobre o segundo “cisne negro” de 2020: a guerra de preços do petróleo.

Não bastassem os efeitos da quarentena para combater a disseminação do coronavírus na economia global em 2020, ainda tivemos a guerra comercial de preços entre os maiores produtores de petróleo do mundo: Arábia Saudita, Rússia e Estados Unidos.

O preço do petróleo do tipo Brent despencou dos 55 dólares por barril, em janeiro de 2020, para o fundo do poço: 25 dólares por barril, o que caracteriza o menor nível desde a criação, em 1960, da Organização dos Países Exportadores do Petróleo (OPEP).

O gráfico acima consiste no histórico de preços do barril de petróleo (US$) e em sua relação com eventos econômicos, geopolíticos e históricos no período que vai de 1860 a 2016. A curva vermelha representa o preço nominal do barril. Já a curva azul, os valores corrigidos para índices de 2016.

Atualmente, o setor de petróleo está enfrentando, simultaneamente, um duplo choque: de demanda e de oferta. Por um lado, a quarentena mundial (lockdown) para tentar desacelerar a disseminação da Covid-19 reduziu a demanda por óleo em mais de 30 por cento em março. Por outro lado, o da oferta, o desentendimento entre sauditas e russos inundou o mercado de “ouro negro”; assim, o excesso de oferta derrubou ainda mais os preços da commodity.

Início da guerra comercial entre Rússia e Arábia Saudita

A reunião da Opep não terminou bem no dia 6 de março, em Viena, Áustria: a Rússia não concordou com o corte de produção proposto pela Arábia Saudita e por demais países-membros, “partindo para a briga”.

A resposta do Governo da Arábia Saudita veio no sábado (7 de março): redução dos preços (entre seis e oito dólares por barril) de venda do petróleo, com aumento de 9,7 milhões de barris na produção diária.

Esta guerra comercial entre Rússia e Arábia Saudita ocasionou a maior queda no preço do petróleo em 29 anos, desde a Guerra do Golfo: o barril do tipo Brent logo caiu 22 por cento, para 37 dólares por barril, e chegou a cair mais de 30 por cento no dia 9 de março (segunda-feira).

O preço do petróleo do tipo West Texas Intermediate (WTI) caiu para 33,20 dólares por barril, queda de 24 por cento, o menor nível registrado desde fevereiro de 2016.

Dessa forma, ficou estremecida a relação do grupo denominado Opep+, formado pelos países da Opep, pela Rússia e por outros produtores, após mais de três anos da cooperação.

Disputa geopolítica

Acreditamos que os sauditas tinham dois objetivos principais ao tomarem as atitudes expostas acima: o de ameaçar os concorrentes que tinham custos de produção mais elevados e o de mirar em cheio na indústria americana de gás de xisto (shale gas).

Em outras palavras, os sauditas estavam, na verdade, tentando atingir os Estados Unidos, que têm um custo mais alto de produção de petróleo e que foram, na última década, a maior fonte de crescimento de oferta de óleo, sendo atualmente o maior produtor da commodity.

Houve, então, uma disputa entre três dos homens mais poderosos do mundo: o presidente americano, Donald Trump, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o príncipe saudita, Mohammed bin Salman. Isto elevou consideravelmente o nível de incertezas no mercado de petróleo.

Essa ruptura entre Rússia e Arábia Saudita trouxe o caos aos mercados financeiros, que já estavam sob a pressão crescente da disseminação mundial da Covid-19. O conjunto de ambos os acontecimentos, ao lado da desaceleração econômica, trouxe, consequentemente, uma redução ao consumo de petróleo.

Preços do petróleo

Os preços do petróleo no mercado internacional tiveram forte queda em 2020: o preço do barril do tipo Brent (negociado na bolsa de Londres) saiu, em janeiro, do patamar de 60-65 dólares por barril e foi para o patamar de 50 dólares no fim de fevereiro, chegando a custar 25 dólares por barril em março, o que representa o nível mais baixo desde os anos 70.

Ontem (13), os preços fecharam sem direção definida, com o petróleo do tipo Brent cotado a 31,74 dólares por barril, alta de apenas 0,82 por cento. O barril do tipo WTI fechou com valorização de 1,53 por cento, aos 22,41 dólares.


Diferença entre os tipos de petróleo: Brent e WTI

Existem duas diferenças básicas entre o petróleo do tipo Brent e o do tipo WTI: os mercados internacionais onde os contratos da commodity são comercializados e a densidade ou o grau de leveza do petróleo.

O WTI (West Texas Intermediate) é comercializado na Bolsa de Nova York e consiste no produto extraído principalmente da região do Golfo do México.

Já o petróleo do tipo Brent é negociado na Bolsa Londres e tem como referência o petróleo extraído do Mar do Norte e/ou do Oriente Médio.

O preço do petróleo do tipo Brent é referência para o mercado europeu. O preço do petróleo WTI, por sua vez, é referência para o mercado americano (incluindo o Brasil).

O petróleo WTI é mais leve (menos denso) do que o petróleo Brent. Assim, o petróleo WTI é mais fácil de ser refinado e transformado em combustível.

Reunião da Opep de abril: acordo de corte de produção

A guerra de preços, que ditou o preço do barril de petróleo nas últimas semanas, finalmente terminou na última reunião da Opep, a qual foi realizada na semana passada.

No último domingo (12), as principais potências petrolíferas (Rússia, Arábia Saudita e Estados Unidos) anunciaram um acordo para reduzir a produção de petróleo em 9,7 milhões de barris por dia nos meses de maio e junho.

De acordo com o comunicado oficial da Opep: “Estados Unidos, Canadá, Brasil e um grupo de 20 países que não fazem parte da Opep concordaram em reduzir a produção de petróleo entre 4 a 5 milhões de barris diários.”

O presidente dos EUA, Donald Trump, fez uma importante intervenção para resolver um impasse na negociação entre Arábia Saudita e México, impasse este que ameaçava o acordo. Ademais, Trump teria também intermediado um “cessar-fogo” entre sauditas e russos.

A partir de julho, o corte na produção será de 7,7 milhões de barris diários durante seis meses, até o fim de 2020. De 2021 em diante, o acordo prevê redução de 5,8 milhões de barris diários até 30 de abril de 2022. A próxima reunião da OPEP está marcada para junho deste ano.

O acordo é positivo por equacionar o problema de excesso de oferta de petróleo e trazer mais racionalidade quanto aos preços da commodity no mercado internacional.

Esse corte na produção mundial de petróleo é substancialmente maior do que o corte proposto na época da crise imobiliária nos Estados Unidos, em 2008.

Entretanto, na prática, a redução de oferta será de 13 por cento da produção mundial de petróleo, abaixo do necessário para equilibrar demanda e oferta.

Desde o início da pandemia da Covid-19, a demanda mundial pela commodity caiu mais de 30 por cento, impactando as contas públicas de diversos países produtores de petróleo. Estimativas indicam que a demanda por petróleo foi reduzida em cerca de 30 milhões de barris diários no mês de abril, reflexo da menor demanda por combustíveis (gasolina, diesel e querosene de aviação) devido ao fechamento de aeroportos, fronteiras e às medidas de isolamento social.

Ressaltamos que a visibilidade sobre os impactos da Covid-19 na economia mundial é baixa. Além disso, não sabemos ao certo a redução na demanda por petróleo em 2020.

Acreditamos que corte anunciado (de 9,7 milhões de barris) pode não ser o suficiente. Os preços do petróleo podem até reagir positivamente no curto prazo, mas não vemos a commodity retornando ao patamar em que estava antes da crise da Covid-19 e da guerra comercial entre Rússia e Arábia Saudita.

O corte na produção era muito necessário, pois o espaço de armazenamento de petróleo seria esgotado em poucas semanas. Com a redução nos estoques, a pressão de baixa no preço do petróleo perde força por conta da volta da normalidade.

O risco nos parece assimétrico, com risco maior na queda da demanda mundial por petróleo do que na recuperação do consumo de óleo.

Cenas dos próximos capítulos: mais cortes na produção de petróleo

O ministro de energia da Rússia, Alexander Novak, afirmou, ontem (13), que “os cortes conjuntos de produção de petróleo sob um acordo global que envolve grandes países produtores, como Rússia, Arábia Saudita e Estados Unidos, podem totalizar de 15 milhões a 20 milhões de barris por dia em maio e em junho.”

Donald Trump, seguindo a mesma linha de Novak, tweetou: “Estando diretamente envolvido nas negociações, posso dizer que a OPEP está considerando um corte de produção de 20 milhões de barris diários, e não os 10 milhões que foram divulgados”.

A racionalidade parece estar de volta

O curto prazo é bastante nebuloso para as empresas de petróleo na Bolsa. O que nos parece claro é que a racionalidade parece ter voltado à mesa de negociações entre Rússia e Arábia Saudita e que novos cortes de produção podem acontecer, equilibrando ainda mais a queda na demanda global – que surgiu por conta da atual queda na economia mundial.

Em suma, parece-nos que o patamar mais baixo da commodity veio para ficar – mesmo com o recente corte promovido pela Opep+. Ainda que o petróleo volte a subir no curto prazo, não vemos a commodity retornando ao patamar em que estava antes da crise.

O que fazer com as ações da Petrobras (PETR3, PETR4)?

A Petrobras (PETR3, PETR4) adotou medidas rápidas para reforçar seu caixa e diminuir suas despesas com o OPEX e o CAPEX, o que é fundamental para que a empresa atravesse o atual momento de incertezas. Com o preço do petróleo em valores tão baixos e a demanda em queda, irão sobreviver apenas as empresas que possuírem Caixa.

O baixo preço do petróleo e a menor demanda por óleo e seus derivados afetam negativamente a Petrobras nos prazos curto e médio. Por isso, àqueles que já tiverem as ações PETR4 em carteira, recomendamos mantê-las.

Aqueles que ainda desejam comprar as ações da estatal devem, ao nosso ver, atender aos seguintes critérios: 1.) ter baixa ou nenhuma exposição prévia em PETR4; 2.) ter apetite a risco; e 3.) ter horizonte de investimento de longo prazo.

Conclusão

Como comentado acima, a racionalidade parece estar retornando ao mercado financeiro. A forte queda dos preços internacionais do petróleo reforçou o sentimento de pânico que dominou o mercado no mês de março.

As cotações dos ativos de risco, quando comparadas à deterioração de seus fundamentos econômicos, parecem ter caído de modo exagerado.

Em nossa opinião, o pior momento de mercado para as bolsas de valores mundo afora parece ter ficado para trás, com os mercados voltando, atualmente, à normalidade.

O “cisne negro” do petróleo não vai desaparecer, mas o risco da guerra irracional de preços diminuiu bastante com o acordo da Opep, atenuando, assim, a volatilidade nos mercados.

Até breve,
Equipe Gabinete Anticaos

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