Denise Campos de Toledo EECI

E os juros voltam a preocupar junto com o fiscal | Denise Campos de Toledo

O mercado continua numa gangorra em meio às indicações positivas e negativas de um cenário de muitas incertezas. Isso vale até para a reforma tributária que pode representa um grande avanço em relação ao atual sistema, mas que teve o texto muito modificado, com exceções demais à aplicação da alíquota base que, por isso, pode ser das mais altas do mundo, entre os países que adotam o IVA. E há dúvidas também quando à redistribuição da carga, setores prejudicados, repartição de receita, custos para o governo, como no Fundo de Desenvolvimento Regional. Porém, a aprovação no Senado foi motivo de comemoração, ainda que os efeitos possam não ser tão de curto prazo, dado o longo período de transição.

A rapidez da aprovação da Reforma pelo Senado, que ainda pode ser fatiada para promulgação mais rápida dos pontos de consenso com a Câmara, foi novidade da semana, mas temos todos os muitos outros fatores que têm embalado a gangorra.

Desde a semana passada, com as decisões sobre os juros pelo Copom e o FED, o mercado teve uma certa tendência em apostar num cenário mais benigno, de parada da alta das taxas nos Estados Unidos e continuidade dos cortes de 0,5 ponto da Selic, por mais algumas reuniões.

A declaração do presidente Lula de que a meta de zerar o déficit público no ano que vem não será cumprida até mexeu um pouco com as projeções de inflação e juros básicos para o final de 2024. Houve pequenas elevações no último relatório Focus. Mas como Haddad insiste na meta e os presidentes da Câmara Artur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, não endossaram a mudança agora, a pressão ficou um pouco de lado, meio pra ver como fica.

Só que na terça veio a ata do Copom, com avaliação mais dura de cenário, inclusive por fatores externos, como às questões geopolíticas e, em destaque, os juros nos EUA. E teve recado também sobre a situação fiscal no Brasil, diante da piora das discussões que antes estavam focadas nas dificuldades de cumprimento das metas e passaram a focar as próprias metas estabelecidas. O Comitê salientou a importância das metas até para a política de juros, deixando explícita a possibilidade de redução do ritmo de cortes da Selic ou de uma parada antes do previsto. Mesmo que o governo tenha adiado a possível alteração da meta para o ano vem, isso pode interferir na política monetária.

Depois do Copom, foi a vez de o FED esfriar perspectivas mais favoráveis para os juros. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve disse estar atento ao risco de que um crescimento mais forte possa prejudicar o progresso adicional na restauração do equilíbrio do mercado de trabalho e na redução da inflação, o que poderia justificar uma resposta da política monetária, acrescentando que o FED não hesitará em aumentar mais os juros se julgar necessário. Agora o mercado convive de novo com os riscos relacionados não só à alta das taxas dos títulos americanos mas, também, de novos ajustes dos juros pelo FED.

Fato é que o cenário, aqui e no exterior, ainda está muito incerto. Tem os juros e o fiscal nos EUA. Aqui persiste a preocupação com o fiscal e a provável mudança da meta, diante das dificuldades de ampliação da receita e de corte dos gastos. E tanto o fiscal como a inflação que, por ora, segue trajetória mais benigna, podem atrapalhar o ciclo de cortes da Selic, até por cautela do Banco Central.

Em meio a esse cenário de incertezas, ainda reforçado pelas guerras e possíveis reflexos, fica difícil mesmo o mercado engatar uma tendência mais favorável. Os momentos de menor stress acabam, na verdade, sendo oportunidade para os investidores ajustarem as posições, levando em conta todos esses fatores.

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