A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de elevar a taxa referencial Selic para 9,25% ao ano, em um avanço de 1,5 ponto percentual, não surpreendeu ninguém.
No entanto, um trecho do Comunicado divulgado após a reunião, em que o Comitê comunica que “provavelmente” haverá outro aumento da mesma magnitude na primeira reunião de 2022, agendada para os dias 1º e 2 de fevereiro, mostra que o BC (Banco Central) segue determinado em sua política de elevar os juros para conter a alta da inflação o quanto antes.
Os prognósticos já eram de continuidade da alta. Há várias semanas, o Relatório Focus vem indicando uma expectativa para a Selic de 11,25% ao ano no fim de 2022.
Para comparar, no início deste ano, a projeção para dezembro de 2022 era de 4,50%. Ou seja, a Selic esperada mais do que dobrou. E os prognósticos são de que 11,25% não será o ápice do ano que vem. Ao chegar em seu ponto máximo, a Selic pode atingir 12,5% ao ano. Taxas comparáveis às do início de 2017, quando o BC ainda tentava ancorar as expectativas após a turbulência provocada pelo impeachment de Dilma Rousseff (e pela desarrumação das contas públicas que o precedeu).
Vamos relembrar o que se passou neste ano, praticamente encerrado.
Em janeiro, a Selic estava em 2%. Agora, a taxa básica praticamente quintuplicou. Porém, isso é um avanço nominal. Pelas contas dos analistas da Levante Ideias de Investimentos, a taxa de juros real “ex-ante” (ou seja, prevista tendo em vista a inflação esperada para os próximos 12 meses) foi de 2,2% negativos para 3,1% positivos, uma das mais altas do mundo e a mais alta dentre os países da OCDE – não vamos nos esquecer que há cerca de US$ 18 trilhões em dívidas soberanas que estão sendo remuneradas a taxas nulas ou mesmo negativas.
A diferença entre o remédio que cura e o veneno que mata está na dose aplicada ao paciente. Pelo livro texto, em momentos de inflação acima do previsto, a tarefa desagradável do banqueiro central é tornar o dinheiro mais caro e contrair o crédito para, de propósito, jogar areia nas engrenagens da economia.
Ao desacelerar a atividade econômica por meio da contenção da demanda, o BC faz os preços retornar ao bom caminho. No entanto, a inflação brasileira não decorre somente de um aquecimento da demanda. A principal causa é uma alta pontual de custos importantes, como energia, combustíveis e alimentos. E a causa são os choques de oferta devido à crise hídrica, a alta dos preços internacionais e a depreciação do real em relação ao dólar. Elevar os juros em ritmo muito acelerado poderá ter pouco impacto sobre essas causas.
Além disso, a elevação sistemática das taxas muito provavelmente vai tornar caro (ou seja, difícil) para as empresas rolar suas dívidas. O custo do capital, tanto para gastos operacionais (opex) quanto para investimentos (capex) deverá subir de maneira relevante.
E Eu Com Isso?
A quinta-feira se inicia com os contratos futuros do Ibovespa e do índice americano S&P 500 em baixa, com os investidores realizando parte dos ganhos dos três últimos pregões.
As notícias são negativas para a Bolsa.
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