A revisão para pior das projeções do FMI para o desempenho da economia global que, na verdade, sancionou a onda de revisões que já vinham sendo feitas por analistas, governos e bancos centrais, foi um dos destaques desta última semana. Mesmo sem nenhuma surpresa porque, como ressaltei, as revisões já vinham ocorrendo, acabou alinhavando os principais problemas que o mundo vêm enfrentando e podem persistir ainda por um bom tempo. Independentemente de ter revisado para cima a projeção do PIB brasileiro em 2022, o que vou abordar mais à frente, acabou por mostrar um retrato desafiador das condições com as quais as várias economias e o mercado estão tendo de lidar.
Vale lembrar que esse retrato começou a ser desenhado um bom tempo atrás. Desde o começo da pandemia o mundo convive com pressões inflacionárias decorrentes de desequilíbrios entre oferta e demanda, provocados pelas restrições de atividade, agravados mais recentemente pela guerra entre Ucrânia e Rússia e pela política de tolerância zero da Covid na China, com lockdown em cidades como Shangai. E essas pressões surgiram em terreno fértil, numa conjuntura de juros muito baixos e excesso de liquidez, proveniente de estratégias anteriores de estímulo e superação de crises. Aí a pandemia, além de atrasar os ajustes nesses estímulos, levou a mais medidas de injeção de recursos, pra compensar a queda de atividade, de renda e o desemprego. No Brasil testamos o patamar inédito da Selic em 2%.
Como o comprometimento da oferta não deve se resolver a curto prazo, o controle das pressões de preços fica mais difícil e tende a exigir maior aperto de política monetária, com mais impacto contracionista sobre as economias. Nas últimas semanas foram renovadas as apostas de um ciclo mais longo de alta da Selic, por exemplo, que pode chegar a 13,75% neste ano, nas expectativas mais pessimistas. para fazer frente e tentar derrubar a inflação já prevista ao redor de 8%. Por outro lado, nos últimos dias se começou a falar em alta de 0,75 pp nos juros nos Estados Unidos, sendo que na semana anterior ainda se discutia se havia possibilidade de a dosagem de ajuste passar de 0,25 para 0,50.
Foi considerando este cenário que o FMI cortou as projeções de expansão da economia global para 3,6% neste e no próximo ano. Pode parecer um bom crescimento, mas preocupa a mudança de sinal. No começo do ano a expectativa era de aceleração da atividade a partir do segundo trimestre. Para o Brasil, como já observei, o Fundo até melhorou a projeção do PIB deste ano, contando com avanço de 0,8%, muito pelo retorno maior que o País vem tendo com as exportações de produtos básicos. Isso deve mesmo dar um fôlego extra para a economia local. Problema é que falta sustentação para uma expansão mais forte e contínua. Faltam vetores de expansão para melhorar as apostas em prazo maior.
De qualquer modo, além do impacto sobre a atividade em geral, os recursos das exportações mais o fluxo de investimentos para o mercado têm garantido o dólar mais baixo, que reduz um pouco as pressões de preços. Não fosse isso e teríamos de conviver, possivelmente, com surpresas inflacionárias ainda mais negativas dos que as que vêm sendo registradas tanto nos índices de atacado, os IGPs, como os de varejo, inclusive o IPCA, referência da meta, que já passou dos 11% em 12 meses.
Mas até em relação ao fluxo, já se nota uma perda de ritmo, especialmente para a Bolsa, que também enfrenta a concorrência dos juros altos.
Fato é que, por mais que o Brasil esteja bem colocado em termos de atratividade para o capital de curto prazo, diante de um contexto muito complicado, aqui e no exterior, todo o mercado tem se mostrado bem mais volátil, com oscilações bruscas intraday, da bolsa aos juros, passando pelo câmbio e commodities. Muitas vezes sem motivos mais relevantes. São oscilações também das expectativas, pela dificuldade de se estabelecer projeções com maior segurança. Tentar operar driblando as marés pode levar o barco a desviar a rota ao dar de frente com ventos contrários. Para quem não tem perfil dos mais arrojados o momento é de cautela, o que não significa abrir mão do potencial de ganhos maiores, mas sim buscar opções que assegurem um bom potencial de remuneração, com menos risco.