O noticiário do início da semana tem as estatais brasileiras como foco. A primeira companhia em questão é a Eletrobras, que volta a sofrer com empecilhos políticos no seu caminho para a privatização: mais uma vez, as negociações em torno do projeto travaram no Congresso.
Desde agosto, o mercado havia se animado com a renovação de fôlego sobre o tema, com a retomada das negociações e eventuais concessões para bancadas do Norte e Nordeste no texto – capitaneadas, principalmente, pelo Ministério de Minas e Energia. No entanto, a alta cúpula do Congresso não vê espaço para o tema neste ano e as discussões devem ficar somente para 2021.
Nos bastidores, presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), nunca mostraram disposição real para levar a pauta adiante. Maia até admitiu retomar as discussões sobre privatização, mas avisou que só o faria após as eleições no Congresso, marcadas para fevereiro de 2021.
Ainda no âmbito das estatais, outra companhia que vêm enfrentando dificuldades na esfera política é a Petrobras. Em seu plano de desinvestimentos, a petroleira pretende se desfazer de negócios em outras regiões do país que não aquelas onde o pré-sal está presente (notadamente, RJ e SP). Isso significaria que a empresa estaria de saída de estados das regiões Norte, Nordeste e Sul. O movimento, contudo, enfrenta resistência de governo locais, que temem possível queda de arrecadação e perda de empregos formais.
Nesse contexto, a Petrobras deve ter dificuldades para negociar dívidas ambientais, tributárias e trabalhistas, que precisam ser quitadas para que a saída da companhia dos estados se concretize. Atualmente, são 164 áreas de produção de petróleo e gás à venda no País, sendo 148 fora do eixo Rio-São Paulo. Esse deve ser mais um capítulo do embate entre Petrobras e Congresso – o Senado, por exemplo, vem confrontando há algum tempo, no STF, a venda de ativos da companhia. Ademais, já foi lançada uma campanha pedindo a permanência da estatal nos estados.
Diante de dificuldades políticas, empresas estatais tendem sempre a enfrentar maior volatilidade nos seus preços. A Petrobras, apesar da crescente resistência política, vai conseguindo implementar seu plano de desinvestimentos – mas é possível que a pressão crescente no Congresso torne, a partir de agora, o processo mais demorado. Não vemos impacto negativo no preço da estatal no pregão de hoje.
Por outro lado, temos a Eletrobras, cuja privatização é cara aos seus investidores. Como já mencionei aqui algumas vezes, o tema é extremamente espinhoso e a agenda do Congresso não deve dar prioridade tão cedo à venda da estatal. Acreditamos em uma possível venda, caso ela ocorra, somente no biênio 2021-2022. Nesse contexto, um novo balde de água fria no tema deve derrubar o preço das ações da companhia nesta segunda-feira.
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